quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

GIZ!

Tem dias que a gente se sente estranho demais para o mundo em que estamos inseridos. Tem dias que eu me impressiono com minha idiotices, no entanto só descubro que foi algo idiota uma hora depois do ocorrido. Acho que sou salvo pela luta anti-manicomial, caso contrário já estaria internado por mim mesmo.

Eu voltava para casa depois do trabalho. Passei por um caminho diferente em direção ao metrô, na tentativa de perceber uma cidade a qual eu passara muito tempo sem ver. Os prédios antigos em meio aos novos; as pessoas apressadas e os carros apertados pelas ruas estreitas.
Em pleno calor do verão, parei para esperar uma chuva inesperada e passageira. Fiquei ali olhando o chão enquanto as gotas caíam e apagavam um sol que alguém desenhou no passeio.
Eu e minha memória seletiva! Era a música do Legião (Giz) acontecendo em minha frente. Quem nunca teve sua fase Legião Urbana que me desculpe o privilégio!
Pronto. A chuva passou! Mas eu não me movi. Desejei imensamente continuar a música. E daí vieram os questionamentos, a vergonha e... a empolgação! Lá vem ela outra vez pra me fazer passar vergonha em pleno centro de Belo Horizonte.
Hum! Mas não tem nem giz. Oops! Tem tijolo de construção. É A música!
Feito!
Peguei um pedaço de tijolo e desenhei novamente o sol que a chuva apagou.
E vocês pensam que eu não cantei? Claro que desenhei cantando ainda.
Levantei-me, limpei a mão na calça jeans já suja, segui meu caminho para casa!

Play list de hoje, adivinha?
Giz – Legião Urbana

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A VOLTA PARA CASA!

A longa viagem tornou-se inesperadamente mais longa por causa de uma tempestade que quase devastou o navio e deixou Julian enjoado e entediado. Há muito tempo longe de casa pela primeira vez não desejava a volta. Sentia um frio cortar o coração à medida que se aproximava do porto. Desejava que o navio se perdesse e ficasse à deriva para sempre. Desejava que o porto jamais fosse encontrado. Desejava que um terremoto arrancasse Bharcelona da face da terra. Enquanto o navio sacudia sobre as imensas ondas ele ignorou tudo e desejou ser lançado ao mar por uma rajada de vento.

Nada disso aconteceu!
Simplesmente o navio atracou como sempre. As pessoas estavam no porto esperando seus familiares. Julian olhou os rostos desconhecidos cujos olhos procuravam curiosos cada passageiro que descia. Sentiu um perfume de uma jovem moça que esperava o seu pai. Era o mesmo perfume de Penélope! Com ele vieram todas as lembranças de um amor que pareceu eterno. Um amor agora ameaçado.
Julian tentou sentir-se irritado e desejou odiar Penélope. Odiou a si mesmo num repúdio posterior. Era um verão de sol escaldante que o forçou a tirar o paletó e parar para descansar. Olhou a cidade de baixo para cima e teve a impressão de ser um estranho na sua própria cidade. Sentiu que algo faltava em sua bagagem, mas descobriu que a falta era em seu coração.

- Penélope, Penélope, Penélope... Sussurrou baixinho na esperança de rever a amada!

Enxugou o suor da testa e seguiu a rua em direção a sua casa. A porta da residência parecia o portão de um calabouço. Não teve coragem de abrir e ficou ali parado com a chave na mão encarando a porta monstruosa. A rua deserta de domingo brilhava com a água costumeira que descia jogada pela vizinha para amenizar o calor.
Tomou coragem e abriu a porta. O primeiro raio de luz que entrou expulsou o ar de solidão que tomava conta da sala. A mala que pendia na mão esquerda caiu subitamente e Julian prostrou junto com ela ali mesmo perto da velha vitrola que abrigava uma fina camada de poeira.
O cansaço não impediu que as lágrimas viessem e num choro silencioso e solitário Julian ficou ali no chão chamando por sua amada.
Ela não estava mais ali e provavelmente não voltaria!
Juian enxugou as lágrimas e olhou para o chão logo abaixo do sofá. Viu a ponta de um cartão cujo carteiro havia jogado por debaixo da porta. O forte impulso fez com que a correspondência se projetasse para o canto do cômodo, alojando-se embaixo do móvel.
Era um cartão enviado por Penélope com palavras de carinho, no entanto, as palavras machucavam muito. Entravam no coração de Julian como pregos. Ele chorou novamente. Subiu para o seu quarto, deitou abraçado ao cartão e releu a mensagem milhões de vezes até adormecer!

Julian,

Cada novo lugar ou mesmo cada novo olhar sobre um mesmo lugar me faz querer você comigo para dividir esses momentos.
Aproveito para dizer FELIZ ANIVERSÁRIO, FELIZ NATAL E FELIZ ANO NOVO!
Saudades!

Te amo, Penélope.