segunda-feira, 28 de maio de 2012

AMAZÔNIA - Parte I



Popó pegou o seu barquinho e saiu puxando, levando embora as canoas, uma amarrada na outra, tal qual os burrinhos do Parque Municipal no fim de um domingo agitado. O barquinho e as canoas serpentearam rasgando o reflexo de ouro derramado pelo sol nas águas negras.
Parei de filmar por um instante só para ter a certeza de que as viagens haviam terminado. Deveria sentir-me alegre por estar voltando para casa, no entanto, não foi bem assim que eu me senti. Parecia que eu havia deixado algo ali naquelas águas. Algo tinha arrancado novamente o meu espírito e depositado em algum local perdido no Rio Negro. Olhei fixamente para o rio em busca do que me pertencia, mas ele não me devolveu.
O "Correa e Filhos IV", ladeado pelo "Alm. Pedro Correa VII" tomaram o rumo de Manaus enquanto o sol se afogava lento no negro rio. A bandeira do Estado do Amazonas, seguida pelo pavilhão nacional tremulavam no céu de azul pálido de mais um fim de tarde abafado e úmido, limpo e lindo, digno de uma despedida ou pintura. Os meninos faziam filas nas portas dos banheiros e tentavam organizar as malas despejadas no salão do barco.
Peguei o meu bloco de anotações e tentei rabiscar minhas emoções no exato momento, mas elas não vinham organizadas, como se fosse possível. As inúmeras experiências vividas nos 40 dias que passei em terras amazônicas ainda estavam borbulhando em minha cabeça!
O que mais me impressionou na Amazônia foi a sintonia e o respeito de um povo pela natureza e a simetria que a água de ébano proporciona com o céu, a terra, a noite e o dia!
Fui para a proa do barco observar a Capital que surgia logo a frente com sua ponte iluminada. "Silinha", cujo pai, Seu Silas eu conheci só por narrativas, chamou Ademar pelo rádio só para perguntar como era que um tal de "Zé Preto" chamava as ondas do rio quando revolto pelo vento.
Seu Silas, o patriarca, havia construído um legado naval familiar e plantara entre os entes a tradição da navegação. Dono de uma frota  considerável e uma retidão invejável, faleceu no domingo da terceira viagem. Os filhos ensinados e já encaminhados não tiveram dificuldades para seguir o caminho sem ele.
Aqui é igual a qualquer outra viagem, mas há o fator diferencial: o respeito à fúria da natureza e a aceitação às coisas da vida. E a morte está incluída neste processo.
Os valores são diferentes para os povos do rio. Aprender com eles é um desafio! É uma ótima oportunidade para rever os meus.
Não vi pessoas infelizes, apesar de pobres. Presenciei um choque cultural semelhante ao ocorrido na época do descobrimento: O encantamento do branco com o contraste de costumes! Os olhos claros misturando-se aos castanhos das peles, do cabelo, das pupilas e da terra dos nativos.
Eu vim ver a vida acontecer na Amazônia e me vi em alguns momento redescobrindo os meus limites. Emocionei inúmeras vezes com o diferente, com o meu Brasil, com os meus Brasis, com o Brazil!



sábado, 3 de março de 2012

MORTE NO PARQUE E SUICÍDIO CORPORATIVO!

Há muito tempo não discuto sobre assuntos corporativos e minha veia RP andava meio fraca. Mas com o ocorrido na última semana senti uma grande vontade de colocar isso aqui no meu blog.
Todo mundo viu em todos os jornais a tragédia no Hopi Hari. O conceituado parque de aventuras no Estado de São Paulo deu um grande passo atrás no que diz respeito à administração de crise.
Certamente por comodismo, por nunca ter ocorrido algo antes em suas dependências, deixaram que a negligência e irresponsabilidade tomassem conta.
Fato! uma menina morreu por falta de segurança em um dos brinquedos!
Analisando o fato, houve uma morte! Pronto! A partir daí toda a conduta (ou falta dela) da adminstração do parque foi fundamental para o cenário que se vê hoje!
Sabemos que todo parque de diversão tem um seguro que cobre acidentes. Isso não traz a vida de uma pessoa de volta, no entanto, dá um suporte ao assumir as responsabilidades.
Eu estou falando em DAR A CARA PARA BATER! Toma a frente da situação; controla as informações; facilita o trabalho da perícia; aponta as falhas; dá assistência à familia da vítima e a expõe o mínimo possível, ou seja, torna a situação mais humana e "vira o jogo" a seu favor!
Tarde demais!
A administração do parque preferiu fazer o contrário e assim, de maneira natural e quase certa, decretar o seu suicídio! E um saldo final nada animador!

domingo, 6 de novembro de 2011

A última carta: CARTA DE JULIAN PARA MIM!

Acabei de ler “O Jogo do Anjo” e percebi que poderia tê-lo lido antes de “A Sombra do Vento”, mas ambos me marcaram com certa peculiaridade. Ao longo de muito tempo revesti o meu relacionamento com os pseudônimos de Julián Carax e Penélope Aldaya, mesmo sem autorização do autor. Mas nem considerei tal possibilidade pois o meu blog e minhas escritas nem alcançam uma amplitude para tal procedimento. Alcança um número reduzido de leitores, porém não menos importante.
Enfim, após desencontros entre Penélope e Julian decidi descansar um pouco de todo o desgaste que envolveu o fim do relacionamento e refletir sobre o quanto deveria expor minha vida pessoal. Mas percebi que os entrelaces da minha vida e de Julian estavam propositalmente confusos, transitando entre realidade e ficção.
Abri mais um livro: “Chapadão do Bugre” e tentei concentrar-me nos detalhes de outro romance. Passei algumas páginas tentando fugir da monotonia inicial de todo livro. Cheguei até as páginas 26 e 27, onde o livro relatava um agosto chuvoso. Deparei-me com um papel dobrado. Um papel diferente, antigo, já amarelado. As escritas eram caprichadas e pareciam ser feitas com outro tipo de caneta. Estava endereçado a mim mesmo, o que achei estranho, pois não havia notado o papel da última vez em que abri o livro. Era uma carta para mim:

Caro Rangel,
Não tente entender este acontecimento, nem qualquer outro acerca de Julian e Penélope. Eu cultivei um imenso amor por ela e agora nada sei a respeito do que acontece. Você me deu liberdade para amar além das minhas capacidades e eu o fiz como nunca. Penélope se foi e sequer conseguiu me dar uma explicação plausível para sua partida, baseando-se em tudo que poderia dar errado para encontrar algum motivo que pudesse dar um fim em tudo. Um fim seco com um simples “adeus” e um beijo na face.
Inesperadamente não mais existia o imenso amor o qual não poderia se chamar “amor” de tão grande o sentimento que era recíproco. Viramos dois estranhos e ela se foi! Assim como saí para tomar ar fresco ela se foi sem avisar. De repente voltou e disse que partiria novamente, enquanto eu descobria que a amava mais do que a mim! E o sentimento avassalador devastou meu peito e minha vida e atingiu tudo aquilo que eu tocava. Tornei-me uma casca ambulante. Um ser sem vida que tudo faz por puro reflexo. Ignorei os poucos amigos que mantinham-se ainda próximos e insistiam em minha atenção.
Meu coração está em migalhas e eu me sinto o pior ser humano do universo. Abandonado, rejeitado, com excesso de auto-piedade e falta de amor próprio; cumprindo a parcela de humilhação necessária para qualquer apaixonado eu desci à sarjeta do sentimentalismo e abri meu coração. Infelizmente recebi um “não” seco e decidido! Penélope está em outra vida, em outro mundo. A velha Paris venceu. Seduziu e venceu!
O que me restou foi passar noites em claro tentando entender o que havia ocorrido. Entre insônias e corridas na madrugada eu analisava as milhares de suposições. Às vezes minha casa parecia pequena para o meu peito e sua falta de ar constante.
Vivo de lembranças. As boas lembranças que às vezes me entristecem...
Por isso, sem maiores explicações venho despir-me do seu existir para voltar somente à ficção do meu sofrimento. É hora de seguirmos separados nossos caminhos solitários. É o momento de realizarmos o luto que ajuda a limpar a dor de coração partido.
Não voltarei ao Anjo de Brumas e a Rua del Tibidabo tornar-se-à provavelmente um endereço desconhecido. Não acho correto lutar contra um amor maior do que o meu mundo, mas não vejo nenhuma outra alternativa. Na verdade não vejo nada a não ser dúvidas. Ainda a amo muito. É o que eu vejo!
Não questiono mais nenhum motivo e preciso ser eu mesmo agora, sem Penélope e sem você. Peço que deixe-me em paz agora! Peço que tenha paz agora! Peço que use o tempo como curativo para sua ferida, pois eu usarei o meu isolamento para a minha. Peço que seja somente você a partir de hoje. Seja sempre quem você foi e não este estranho que estava se perdendo na própria melancolia.

Espero que sejas feliz!
Saudações,


Julian Carax

Julian havia partido aquela manhã após passar na livraria e deixar um bilhete dentro do meu livro. Ele tomou uma xícara de café lentamente, sem dizer muitas palavras e olhando fixamente para o meu escapulário.
Depois de um longo tempo em silêncio ele comentou:

- Eu a dei um escapulário muito bonito!

Sorriu meio sem graça e desviu os olhos para a pintura na parede. Sua fisionomia era muito triste. Parecia solitário e sofrido.
Repousou a xícara sobre o balcão, tocou o meu ombro, como de costume e saiu sem dizer nada. Pegou o primeiro trem para Bruxelas e achei estranho, pois ele nunca havia falado sobre conhecidos por lá. Julián vaga sem destino a procura de algo o qual nem sabe o que é. A procura de ao menos paz para o coração. A procura de um coração...

domingo, 9 de outubro de 2011

O HORIZONTE!

Julian sentou-se à porta para olhar o pôr-do-sol e aproveitar o calor dos últimos raios que banhavam de ouro as pontas das dunas ao longe. Uma leve brisa trazia o cheiro do mar longínquo ao mesmo tempo em que um bando de aves negras pincelavam o céu amarelado.
Antes que o sol se esvaísse por detrás da duna maior, um vulto branco surgiu ao longe. Julian observou pouco interessado e nem tentou descobrir o que poderia ser, preferindo deixar para o comodismo da proximidade.
O vulto foi tomando forma. Uma forma familiar aos olhos de Julian! O jeito de andar, os cabelos negros voando ao vento... Penélope!
Após sussurrar o nome dela levantou-se vagarosamente e nem se importou com as lágrimas que caíam. Ele deu alguns passos até perceber que suas pernas não o obedeciam. Apoiou-se na pequena cerca branca que circundava a casa e decidiu esperar. Era ela! Ele tinha certeza que era ela! Penélope estava voltando tal qual o dia em que partiu. Era ela que parecia flutuar na areia fina. Era ela, linda...
Penélope aproximou-se mais, tocou a face de Julian sem nada dizer. Olharam-se fixamente por um longo tempo sem precisar de palavras.
Julian nada perguntou! Nem sabia se acreditava na volta de Penélope, mas o fato é que ali estava ela.

Quando ele conseguiu quebrar o silêncio, murmurou:
“- Que bom que está de volta!”
Penélope olhou fixamente para Julian e com os olhos marejados disse:
“- Eu só vim dizer adeus. Não há mais lugar para mim em BHarcelona. Eu não sou a mesma, você não é o mesmo e... eu... nem sei mais se o amo como antes! Um grande navio vai partir em breve e eles precisam se uma cantora para a banda da primeira classe. É minha grande oportunidade!”

Julian somente ouviu e sentia seu corpo petrificar. Um suor frio escorreu-lha às têmporas e a boca seca não conseguia pronunciar o que não veio. E assim permaneceu o silêncio! Um silêncio ensurdecedor que poderia abafar o ruído de mil locomotivas. O silêncio que multiplicava o som das batidas do coração de Julian! E mesmo assim ele preferiu permanecer calado!
Era o fim do dia e novamente o sol lambia o lago com suas madeixas douradas.
Penélope olhava fixamente o horizonte envolvida nos braços de Julian que apoiava o queixo em seus ombros. Ela conseguia ouvir a respiração forte porém calma que fazia tremular os pequenos laços de fitas coloridas que enfeitavam o colo do vestido.

Julian beijou a face de Penélope e disse:
“- Eu tenho um imenso amor! Fique e será só o começo!”
Penélope permaneceu em silêncio durante alguns segundos antes de dizer:
“- Eu preciso ir. Eu quero ir!”

Julian deu um sorriso acalentador, mesmo não querendo sorrir. Não teve vontade de chorar também. Apenas abraçou Penélope pela última vez. Não disse nada. Nem adeus!
Simplesmente continuou sorrindo enquanto observava Penélope desenrolar-se dos seus braços e caminhar vagarosamente para dentro do lago. Seu vestido branco misturando-se com o dourado do sol molhado formava um novo rastro na água. Julian somente olhava Penélope entrar nas águas em direção ao sol que já se escondia por quase completo. E quando já não tinha mais luz dourada ele disse baixinho numa voz quase sem força:
“- O horizonte foi mais tentador!”

Tirou os olhos do lago e fixou em algo no chão. Curioso, passou o pé no objeto para verificar o que poderia ser. Era um dos pequenos laços de fitas os quais enfeitavam o vestido de Penélope.
Era um laço vermelho e estava meio molhado.
Julian pegou-o com cuidado, passou na manga da camisa para tirar um pouco da areia e em seguida guardou no bolso do lado esquerdo da camisa.
Virou-se calmamente e foi caminhando em direção à casa. Durante o percurso ele colocava a mão no peito, pelo lado de fora do bolso, tentando assegurar-se de que o laço ainda estava ali. Não olhou para trás nem sentiu tristeza. Sentiu uma angústia, uma falta de ar, um vazio, mas não sentiu tristeza...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE JULIÁN E PENÉLOPE - Cílios Postiços

Um dia Penélope e Julián sentaram na areia para ver o pôr-do-sol.

Penélope recostou no peito de Julián, suspirou, sorriu e disse olhando para o mar: “amor, quando a gente se casar eu quero usar cílios postiços!”
Julián sorriu, não pelos cílios postiços, mas pela amada o querer tanto.
Fechou os olhos e sonhou dando um meio sorriso.
Eles ficaram ali até o fim do dia e os últimos raios de sol desaparecerem no horizonte.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE JULIÁN E PENÉLOPE I ! Sem fotos

Era um show da dupla Victor e Leo, surgido de ultima hora em algum lugar não muito perto. Julián e Penélope decidiram aventurar-se no meio da multidão e aproveitar um pouco a festa. Em algum momento perderam-se dos amigos e acomodaram-se num local menos tumultuado.

A noite estava fria, caía um sereno gelado. Penélope, ao tentar olhar para o lado oposto, roçou a cabeça no rosto de Julián e ele sentiu o cabelo dela muito frio, mesmo sob o chapéu de cowboy que ela havia comprado há muito tempo em Goiás.
Os olhares cruzavam-se algumas vezes, mas não paravam fixos um no outro, sempre finalizados com um meio sorriso que voltavam-se para a dupla no palco.
As músicas iam embalando o público e o frio aumentando. Juliám fixou o olhar em Penélope e decidiu que não iria desviá-lo, aconteça o que acontecer. Ela estava cantarolando o fim da música e aplaudindo o começo da próxima. Iniciou-se “Tem que ser você” e Julián cantou alto ainda olhando fixamente para Penélope. Ela esfregou os braços sinalizando sentir mais frio. Ele a abraçou e passou a ponta do nariz em seu rosto. Ela sorriu, ainda olhando para o palco. Entreabriu a boca, como quem se prepara para dizer algo, respirou fundo, colocou a mão no chapéu e tirou-o. E ainda virando para Julián disse: “vamos acabar com isso logo!”
Não teve tempo pra olho no olho, não teve tempo para perguntas! Simplesmente se beijaram enquanto parecia que o operador de áudio havia aumentado o volume só para eles!
Não recordo muito bem o que veio depois disso, mas a música caiu bem para a ocasião e para sempre!

Música de hoje:
Victor e Leo - Tem que ser você

sábado, 20 de agosto de 2011

O CONSTRUTOR!

O ser humano muitas vezes tem o hábito de estragar algumas coisas boas na vida dele! Pelo menos grande parte disso!
Talvez por imaturidade, talvez por falta de lucidez... ou até mesmo por excesso de zelo! Talvez por desespero, talvez por medo. O medo de que tudo se desmorone, faz realmente com que aconteça. E quando acontece vem a célebre pergunta: "O que fazer agora?"
E assim foi comigo: tive medo, tive zelo, tive loucura e então, desmoronou! E eu fiz, na verdade ainda faço a cada dia, a pergunta acima.
O sentimento que tenho é idêntico ao que tinha quando fazia algo errado e ficava com medo de apanhar da minha mãe. E às vezes eu sabia que ia relamente apanhar para aprender a não fazer mais aquilo, mesmo sem ter intenção nenhuma de fazê-lo, mas também, por tanto medo, por tanto pavor, não conseguir me explicar.
E a gente vai crescendo e cometendo outros erros e a vida passa a ser a mãe que pune e novamente recebemos a punição sem consegur explicar nada. Na tentativa de explicar esquecemo-nos dos escombros no chão.
E agora eu tento juntar o que sobrou, avaliar as fundações e o estrago causado a elas e saber se ainda suportam outra construção! Ainda mais delicado é saber onde pisar, se ao redor ou se por dentro... caminhar com cuidado. O bom construtor preocupa-se com as fundações. E na engenharia da minha vida ainda pretendo reforçar as bases. Ainda pretendo juntar o que sobrou e re-construir.
Julián ainda vai tentar salvar o que resta. O amor por Penélope continua forte, até o dia em que ela decidir não aceitar mais tal sentimento. Ele ainda acredita que exista algo nos escombros do velho Anjo de Brumas.
Jullián Carax e Penélope Aldaya! Esperança de um RE - AMOR!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PAPAI DO CÉU MANDOU DIZER!

Há mais de um ano Penélope havia desaparecido nas dunas. Julián não a procurara mais. Vivia de lembranças repentinas que o faziam ficar parado, melancólico, desligado por alguns momentos. Vários momentos durante o dia! Vez ou outra uma lágrima caía puxando mais algumas teimosas que desejavam os beijos delicados no olho de Julian.
Era o fim do dia na velha BHarcelona. As pessoas caminhavam apressadas para suas casas. Só Julian que não tinha pressa. Saiu da livraria mais cedo, caminhou vagarosamente pela calçada. Olhou o reflexo do sol ainda alto na poça d’água que beirava o meio fio. Seu pensamento era só Penélope naquele dia. Até tentou se distrair, com os jogadores de damas, mas ela era insistente.
Olhou para os laços de fita na vitrine, viu a garrafa de vinho preferido na mesa do restaurante, ouviu a música que ambos gostavam.
Quando percebeu já estava no parque da cidade. Observou os cisnes no lago e os casais que conversavam sob o agradável sol de um inverno não muito frio.
Uma doce voz cantava uma música cuja letra marcou Julian. Ele fechou os olhos para ver Penélope caminhou no gramado em sua direção. Ele não queria abrir os olhos mas foi forçado por um toque frio em seu braço. Era a mão de um velho mal vestido. O homem o encarava com certa brandura. Julian enfiou a mão no bolso e tirou uma moeda, mas antes que esticasse o braço o velho recusou a doação e disse:
- Não é dinheiro que você precisa doar! Não preciso de nada também. Acalme o seu coração e prepare-o para o momento em que você despejará no lugar certo todo amor que leva contigo. Ela está mais próxima do que imagina!
Julian apoiou o rosto nas palmas das mãos e caiu num choro intenso sem se preocupar com quem caminhava pelo parque. Uma garotinha aproximou-se com um lenço o qual embrulhava uma maçã, ofereceu o tecido a Julian e disse:
- Não chore, moço. Vai passar logo!
Sem olhar para a criança ele pegou o lenço, enxugou os olhos, agradeceu e continuou sua caminhada vagarosa para casa. Enquanto caminhava e bem perto de onde estava sentiu uma mão macia tocar a sua. Era a mesma menininha do lenço. Ela o olhou novamente, pediu para que ele se abaixasse, pos sinalizou que diria um segredo. Ele abaixou-se sorrindo pela metade e ofereceu o ouvido para a pequena que disse baixinho em voz rouca:

- Papai do céu mandou dizer que você vai ficar bem!



domingo, 31 de julho de 2011

PARA O ROCK

Era manha de um dia  qualquer quando minha colega de trabalho me disse: Hoje é o dia do Rock! Coloca no seu perfil do facebook a foto do seu ídolo. Achei legal e coloquei a foto do Elvis!
Um dia depois do dia do rock; mesmo sem perceber que o meu blog se arrastou cômica e melancolicamente pelo seu segundo ano de vida; eu peguei o ônibus relativamente atrasado e um pouco arependido por não vestir uma blusa, pois um vento frio me cortava a lateral do braço. Não me preocupei com o restante do mundo e levei meu "autismo"a sério naquele momento. Só eu e meu fone de ouvido transitávamos pelas ruas da cidade num transe indescritível.
Acho que cantei alto algumas vezes  e repeti várias outras músicas das quais mais gosto. O Playlist daquela manhã estava carregado de guitarras.
Ah! O mestre Satriani rasgava o último volume e abriu caminho para os Talking Heads. E eu me imaginava cantando em minha própria festa!
Desci do ônibus "batucando"com as cordinhas das mochilas e subi a Rua da Bahia, como de costume. Dire Straits me levou até o seu Tunnel of Love quando eu me assustei com um senhor que puxava o seu carrinho de compras. Atravessei uma avenida, desci uma rua e deparei-me na porta do prédio do meu trabalho. Fiquei ali parado esperando a música acabar e assim poder voltar ao mundo dos normais depois de  um começo de manhã embalado pelos resquícios do dia do Rock.

PLAYLIST DA MANHÃ:
Satriani - If I could fly
Talking Heads - Psyco Killers
ACDC - Highway to Hell
Dire Straits - Tunnel of love


terça-feira, 17 de maio de 2011

O CAMINHO DO SOL

Julian caminhou exaustivamente para dar a volta no lago que parecia não ter fim. Subiu numa duna e ao longe avistou Penélope. Ela parecia agitada e feliz ao mesmo tempo. Brincava com o vento e alguns pássaros a acompanhavam no que parecia uma dança.

Julian sentiu imensa emoção ao ver a amada. Resolveu inutilmente gritar. Ela não podia ouvi-lo a uma distância que parecia curta. Era muito longe! Penélope seguia sem olhar para trás enquanto o vento brincava com seu longo vestido.
Julian chamou dezenas de vezes. Gritou o mais alto que pode, sem sucesso. Decidiu correr para alcançá-la, mas a cada passo parecia afundar na areia macia. Desesperou-se e caiu cansado, respirando forte enquanto Penélope desaparecia no horizonte trêmulo.
Julian levantou-se e teve que fazer um esforço tremendo para manter-se de pé. Cada passo era dado com dificuldade em direção a um arbusto do qual ele só havia percebido a presença há poucos segundos. Prostrou-se sob a sombra e tentou chamar pela amada mais uma vez, no entanto, nem a imagem dela estava mais lá.
Sentiu sede, fome e tristeza ao mesmo tempo.
Percebeu uma imagem escura aproximando-se vagarosamente. Era um beduíno montado em um jumento.

- Divide a sombra comigo? Disse o viajante.
- Fique à vontade! Respondeu Julian arredando o corpo para o lado.

O homem vestia roupas grossas e exalava um cheiro forte de estábulo.

- O que faz você por aqui, sozinho? Perguntou o homem a Julian.
- Estou a procura da minha amada. Ela foi em direção ao sol, logo ali naquela duna.
- Por ali não vi ninguém passar por mim. Confirmou o viajante.
- Tem certeza? Duvidou Julian
- Absoluta! Mas você vai continuar a caminhar por este deserto sem fim?
- Sim! Até encontrá-la.
- E que vai te dar forças?
- O meu imenso amor!

O viajante deu uma gargalhada que ecoou pelas dunas ao longe.

- Imenso amor? imenso é este deserto. Você é ridículo, mas acho que posso acreditar em você! Você me venderia esse amor? Pago cinqüenta moedas de ouro por ele!
- E o que eu faria com tanto ouro?
- Compre outro amor! É muito fácil! Venda-me o seu, volte para a cidade e compre todo amor que desejar!

Julian sentiu-se envergonhado e nervoso com a oferta:

- E onde encontrarei um amor que me faça feliz? Um amor puro sem limites; um amor tão grande, cuja palavra “amor” não seria suficiente para defini-lo. Um amor acima da distância e das circunstâncias. Onde estaria? Eu vendo-lhe o meu amor e compro a informação. O meu amor acabou de desaparecer por trás daquela areia toda!

Julian chorava sem forças para prosseguir em sua busca por Penélope. Tentou gritar, mas a voz não era suficiente. Suas lágrimas secaram...
O viajante levantou-se vagarosamente apoiando-se no ombro de Julian. Prosseguiu sua caminhada puxando o jumento. Sem olhar para trás disse:

- Tenha calma! O amor ainda está por perto. Depende de você. Não tente gritar. Caminhe vagarosamente, um passo após o outro. Penélope está mais perto a cada passo. Limpe os seus olhos e veja além do que a areia esconde.

O sol lambeu a duna mais distante e derramou seu dourado pela vastidão.

Julian decidiu que por hora era melhor repousar por ali.

Playlist:
Água de Oceano - Victor e Leo