terça-feira, 12 de outubro de 2010

O DIA EM QUE MEU MUNDO PAROU!

Hoje, no dia das crianças lembrei que um dia fui criança. E há pouco tempo me encontrei com a criança de outrora, a qual nem conhecia mais!

Tomé Nunes!
Não sei nada sobre a vida deste homem que deu nome ao vilarejo quilombola as margens do São Francisco. Só sei que foi um dia marcante para mim. A poeira que virou lama com a forte chuva, a receptividade das pessoas, o clima acolhedor, os causos. A história de luta e trabalho de um povo que conquistou uma dignidade rara.
Logo no dia da exibição fui visitar o lugar para fazer uma visita de reconhecimento.Fui recebido por crianças que aguardavam o início das aulas. O carro foi cercado por poeira e gritos curiosos. Eufóricas, as crianças pediam por uma bola e batiam no vidro dando gargalhadas e exibindo uma dentição alva em contraste com uma pele de cor negra particular.
A novidade chegara ali no meio de um povoado. Era tudo novo para nós também!
Enquanto os equipamentos eram montados as crianças corriam pelo grande pátio, curiosas com o que aconteceria em seguida.
Parei para observar o que acontecia ao redor e vi um clima de interação geral instalado ali embaixo do grande jatobá. Tudo era por causa do cinema!
foto: cris barakat
Vi no chão o carrinho que transportava a tela! A partir daí quem mandou em mim foi a criança que estava adormecida! Amarrei uma corda no carrinho e comecei a puxá-lo. Isso foi suficiente para atrair imediatamente umas dez crianças. “E foi aí que deu a doidja!” Uma gritaria tomou conta do lugar com as crianças se empurrando, tentando conseguir um lugar no carrinho que eu puxava já exausto. E foi uma loucura geral na equipe! Todos pararam o que estavam fazendo para observar a pausa no meu trabalho sério. Os fotógrafos correram  para pegar umas fotos novas.

foto: cris barakat
 Sim! Apareceu um sorriso em meu rosto e eu me esqueci completamente de quem eu era e onde estava. O sorriso virou gargalhadas, pois acabei ganhando um lugar no carrinho enquanto alguns garotos me substituíram no reboque do veículo.
Por um breve momento vi-me num transe de alegria sob um sol severo que pareceu se emocionar com a bela cena.
Costumo dizer que eu levo diversão para as pessoas, mas, já fui questionado por um exemplo prático! Agora eu digo que fazemos um intercâmbio, pois naquele dia aconteceu realmente uma troca. Sabendo o que aconteceria eles se adiantaram e me proporcionaram um momento de real diversão, inocente, puro e completo!

Obrigado Tomé Nunes! Obrigado Deuses!



foto: cris barakat

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O RETORNO

A volta para casa foi mais difícil do que Julián imaginava. O fim de mais uma pesquisa para o seu livro o deixara intrigado e magoado ao mesmo tempo. Ele olhava a estrada pela janela do ônibus enquanto todos os últimos acontecimentos passavam em flashes por suas lembranças. Seu coração sangrava numa dor pulsante que massacrava também os seus ossos fazendo com que o veículo parecesse bem menor do que era.

O caminho parecia infinito enquanto as canções tocavam em seu velho rádio de pilhas que mais emitia ruídos do que realmente músicas. Eram canções que falavam de saudades, viagens e solidão, mas que por outro lado traziam um acalento melancólico o qual Julián recebia apático.
A última jornada pelo sertão o deixara exausto e deprimido!
Penélope o acompanhava numa foto em sua carteira, embrulhada num bilhete pequeno com palavras de amor. Vez ou outra ele a olhava com um suspiro longo de saudade, desejando-a com todas as poças forças que restavam. Relia as poucas palavras para reafirmar a presença da amada.
Novamente fixou o sol que já se ia ao longe derramar seu dourado no rio e escrever em suas águas um bilhete para a lua vindoura. Viu a cabeleira de ouro se espalhar pela vegetação seca do sertão e fazer um risco discreto no vidro da janela. Sorriu para espantar a solidão, mas voltou-se às letras melancólicas das músicas do rádio.
O bilheteiro quebrou sua concentração para conferir a passagem, mas logo ele se voltou à sua ocupação com o nada.
Queria tanto a presença da sua amada e continuou desejando isso durante todo o percurso. Sentiu falta da sua alma. Ela havia ficado em algum lugar e voltaria mais lenta e viscosa dias depois.
Alguns momentos ainda ecoavam frescos como o divertido dia na comunidade africana; o caminhão preso na balsa na travessia do grande rio; a visita à casa de Corina e o encontro com o Jurupari!
Enfim, a viagem terminara, mas o trabalho só estava começando!
Chegou em casa e viu uma carta de Penélope. Sorriu com toda vontade possível até que o sorriso virasse gargalhadas que ecoaram pela casa vazia.

E Juliám prostrou em sua cama tentando familiarizar-se com o seu ambiente!











O que tocava no rádio:
Bob Segar - Against the wind
Simon and Garfunkel - Mrs Robinson
Sugarland - Baby girl