segunda-feira, 28 de junho de 2010

OUTRA VIAGEM!

E mais uma vez eu lá no fim do mundo, percorria lugares novos em busca de estórias novas. E elas realmente apareciam sem muito esforço.
Os vilarejos, as velhas casas, as pessoas simples e desconfiadas, as estradas sinuosas e o meu companheiro de viagem. Tudo se entrelaçava com as músicas do meu mp3 intercalando com o I phone em busca de melodias.
- O que você quer ouvir? Perguntava ele.
- Música! Eu sempre respondia.
E ele calado sempre trazia uma pérola da MPB!
A cada kilômetro percorrido surgia uma cumplicidade recíproca enquanto eu me via naquele jovem cheio de planos, sonhos, dilemas e felicidade.Um amigo surgia ali ao poucos, olhando horizonte e o sol morrer vermelho por detrás das montanhas. O brilho no olho alternava com a névoa de acordo com os assuntos e as novidades que surgiam. Nada era tão novidade para mim, mas era um outro mundo sendo desbravado por ele. Era como eu me sentia quando o cinema me pegou! Cantávamos alto e de vez em quando eu tinha o ímpeto irritante de ficar traduzindo porcamente algumas músicas.
Rumávamos para o norte e tínha a impressão de que meu senso de compreensão de coordenadas estava meio enferrujado. Não conseguia entender as instruções das pessoas, a ponto de não compreender o que seria um “segue direto”. No meio dos eucaliptos, o jovem motorista de um velho ônibus nos explicou três vezes que era somente seguir direto após as lombadas. E certamente nos chamou de burros quando fizemos uma expressão de dúvida e também o consideramos um burro que não sabe dar coordenadas. No entanto, nós éramos os perdidos, forasteiros ignorantes. Era tão fácil seguir direto! E descobrimos isso quando decidimos refazer o caminho e percebemos que era somente seguir direto e não virar à direita, como havíamos feito anteriormente.
E assim seguimos viagem acatando as orientações malucas entre poeira e asfalto, amigos e reencontros e uma noite inteira de viagem e desabafos:

- A prefeitura é ali oh! É só subir ... Subimos e encontramos a Câmara municipal!
- Você segue aqui direto e lá na frente você vira!
- Vai em direção ao Prata!
- Você não vira ali não! Segue reto e vira lá na outra!
- Vai seguindo essa estrada aí, depois da ponte, pra onde seu nariz apontar, você pode ir!
E quando eu precisar de um companheiro de viagem sei onde procurar! E quando precisar de um companheiro sei quem é!
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quinta-feira, 10 de junho de 2010

PENÉLOPE!

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Penélope sentia-se fraca, cansada e deixou que o grande livro escorregasse de suas mãos perdendo a página que lia. Deixou que ele repousasse parte sobre seu peito, parte sobre o pesado cobertor e o abraçou como se ali abraçasse um pedaço do seu amado. Correu letargicamente os olhos pelo espaço do seu pequeno quarto, pousando a vista sob a vidraça da janela que refletia uma lua tímida e embaçada pela névoa da noite, incomum naquela estação do ano. A luz fraca do único abajur que funcionava, jogava uma luz amarela sobre a foto preto e branco e o amuleto de sorte dado a ela por Julián antes de partir para Paris.
A prata envelhecida pela luz fez correr um calafrio pelo corpo de Penélope. Era como se envelhecesse o amor e as lembranças de tudo que vivera com o seu amado.
Penélope imersa no silêncio da madrugada só ouvia o barulho dos pingos que morriam na janela, tilintando como um conta gotas marcando o tempo de uma ausência. Pensou em tudo que deixou para trás, contra tudo e todos em busca do sonho de ver o mundo pra’lém dos limites nunca quebrados da velha Bharcelona. Ela lembrou de Julián, fechou os olhos e viu sua face. Pensou se não se deixara iludir pelo sonho errado. Se não perderia seu grande amor pra sempre. Sentiu seu coração sangrar de dor. Abraçou o grande livro e adormeceu para fugir dos pensamentos.
Sonhou com Julián esperando-a na velha estação de trem. Ele vestia um terno novo e tinha nas mãos três rosas embrulhadas num papel pardo. Os olhos de Julián brilharam úmidos ao verem Penélope descendo do vagão e correndo para um longo abraço o qual não aconteceu, pois o apito do trem fez com que a amada despertasse do sono. Ela sorriu consigo, apagou a luz e voltou a dormir para tentar sonhar novamente com Julián.

by Jo
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quarta-feira, 9 de junho de 2010

DENTE DE LEITE

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Eu estava numa lanchonete almoçando. Enquanto comia e imaginava milhares de coisas em minha pura distração fui atraído por dois irmãos que conversavam à mesa ao lado, enquanto a mãe comprava os lanches. As idades suponho que eram de 7 e 5 anos aproximadamente. O mais velho, em sua vasta experiência, dava dicas ao mais novo. Ele ensinava alguns métodos para arrancar dentes moles. O mais novo mostrou o dente que estava por cair e recebeu as seguintes instruções:

- Eu não vou cobrar nada de você!
- Por que?
- Porque você é meu irmão! Pra você é de graça!
- E você já cobrou de outra pessoa?
- Já! Da Eloísa, da minha sala.
- E quanto ela te pagou?
- Duas figurinhas do Yo-gi-ho
- O que eu tenho que fazer?
- É muito fácil! Você amarra uma corda no dente e amarra a outra ponta na porta. Daí você bate a porta, assim oh: “paaahhhh!” e o seu dente sai voando.

O irmão não agradou muito da idéia, então partiram para uma segunda alternativa:
Você amarra uma corda no seu dente e a outra ponta da corda você amarra numa cadeira. Aí você joga a cadeira pela janela e o seu dente sai correndo atrás dela.
Idéia também vetada. Seguiram para uma terceira alternativa e eu seguia junto com o meu fantástico mundo de Bob!

- Você amarra uma corda no dente e a outra ponta você amarra no carro da mamãe. Quando ela sair o carro vai levar o seu dente com ele.
- Ah não! E se o carro sair me arrastando pela rua? Isso é muito perigoso. Vou pedir a mamãe pra me levar num dentista.

Na verdade eu também achei uma alternativa perigosa, mas para alívio de todos, a mãe chegou com o lanche e acabou com todas as idéias malucas.
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sexta-feira, 4 de junho de 2010

MENINO MANDADO

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- Oh Lucas, vai comprar pão pra nós, meu fi!
- Oxe! E cadê o dinheiro?
- Tá ali na mesa!
- E ocê quer que eu vou como, Zeta?

- Mas meu fi, vai de bicicleta!
- Tá quebrada, mulher. E essa padaria é uma lonjura!
- Mas tu num tava aqui agora com vontade de comer pão?
- Até que tava, mas quando eu lembrei da lonjura da padaria, a vontade passou na horinha.
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

BREVE DEFINIÇÃO!

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Quando viajo com o cinema a viagem parece mágica, alheia ao mundo e cria outro mundo:

E a vida passa com suas gentes, suas cores, seus cheiros e seus gestos! Em um leva e traz de estórias que viram realidade e realidades que viram estórias numa tela de cinema. A tela, espelho das vidas, reflete os olhos dos povos, tocando as almas transforma os sonhos e renova as esperanças! Janela aberta para o mundo que mostra o interior de um gigante e os trens que ali tem. E nos infinitos trilhos de terras quentes o sol se esguia vermelho forte e desperta um novo dia acompanhado de um novo sonho, de ser sempre Brasil.

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terça-feira, 1 de junho de 2010

SAMBA NÃO MUSICADO

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JOANNA
(Samba não musicado)

A moça do rio do salto do peixe
O velho Francisco te banha e te ama
O sol ardente te negra a pele
A lua crescente te inveja, te chama

Ela veste chita florida
E traz o mundo em seu olhar
Me estremece com o toque dos lábios
Que dizem ternuras sem nada falar

- Refrão -
Ela veste chita, se enfeita de fita e quebra a escadeira
Ela me fascina Joanna menina de toda maneira
Ela é mistura de fúria e brandura que faz requebrar
Ela é coisa mais linda que olho pode enxergar

Ela põe fita no cabelo
E traz a criança alma afora
Me rouba um sorriso menina faceira
Joanna doçura de hoje e outrora

De chita e de fita ela vive enfeitada
De amor e calor ela é presenteada
De flores e cores anda sempre pintada
Joanna bacana ela é chamada
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