domingo, 6 de novembro de 2011

A última carta: CARTA DE JULIAN PARA MIM!

Acabei de ler “O Jogo do Anjo” e percebi que poderia tê-lo lido antes de “A Sombra do Vento”, mas ambos me marcaram com certa peculiaridade. Ao longo de muito tempo revesti o meu relacionamento com os pseudônimos de Julián Carax e Penélope Aldaya, mesmo sem autorização do autor. Mas nem considerei tal possibilidade pois o meu blog e minhas escritas nem alcançam uma amplitude para tal procedimento. Alcança um número reduzido de leitores, porém não menos importante.
Enfim, após desencontros entre Penélope e Julian decidi descansar um pouco de todo o desgaste que envolveu o fim do relacionamento e refletir sobre o quanto deveria expor minha vida pessoal. Mas percebi que os entrelaces da minha vida e de Julian estavam propositalmente confusos, transitando entre realidade e ficção.
Abri mais um livro: “Chapadão do Bugre” e tentei concentrar-me nos detalhes de outro romance. Passei algumas páginas tentando fugir da monotonia inicial de todo livro. Cheguei até as páginas 26 e 27, onde o livro relatava um agosto chuvoso. Deparei-me com um papel dobrado. Um papel diferente, antigo, já amarelado. As escritas eram caprichadas e pareciam ser feitas com outro tipo de caneta. Estava endereçado a mim mesmo, o que achei estranho, pois não havia notado o papel da última vez em que abri o livro. Era uma carta para mim:

Caro Rangel,
Não tente entender este acontecimento, nem qualquer outro acerca de Julian e Penélope. Eu cultivei um imenso amor por ela e agora nada sei a respeito do que acontece. Você me deu liberdade para amar além das minhas capacidades e eu o fiz como nunca. Penélope se foi e sequer conseguiu me dar uma explicação plausível para sua partida, baseando-se em tudo que poderia dar errado para encontrar algum motivo que pudesse dar um fim em tudo. Um fim seco com um simples “adeus” e um beijo na face.
Inesperadamente não mais existia o imenso amor o qual não poderia se chamar “amor” de tão grande o sentimento que era recíproco. Viramos dois estranhos e ela se foi! Assim como saí para tomar ar fresco ela se foi sem avisar. De repente voltou e disse que partiria novamente, enquanto eu descobria que a amava mais do que a mim! E o sentimento avassalador devastou meu peito e minha vida e atingiu tudo aquilo que eu tocava. Tornei-me uma casca ambulante. Um ser sem vida que tudo faz por puro reflexo. Ignorei os poucos amigos que mantinham-se ainda próximos e insistiam em minha atenção.
Meu coração está em migalhas e eu me sinto o pior ser humano do universo. Abandonado, rejeitado, com excesso de auto-piedade e falta de amor próprio; cumprindo a parcela de humilhação necessária para qualquer apaixonado eu desci à sarjeta do sentimentalismo e abri meu coração. Infelizmente recebi um “não” seco e decidido! Penélope está em outra vida, em outro mundo. A velha Paris venceu. Seduziu e venceu!
O que me restou foi passar noites em claro tentando entender o que havia ocorrido. Entre insônias e corridas na madrugada eu analisava as milhares de suposições. Às vezes minha casa parecia pequena para o meu peito e sua falta de ar constante.
Vivo de lembranças. As boas lembranças que às vezes me entristecem...
Por isso, sem maiores explicações venho despir-me do seu existir para voltar somente à ficção do meu sofrimento. É hora de seguirmos separados nossos caminhos solitários. É o momento de realizarmos o luto que ajuda a limpar a dor de coração partido.
Não voltarei ao Anjo de Brumas e a Rua del Tibidabo tornar-se-à provavelmente um endereço desconhecido. Não acho correto lutar contra um amor maior do que o meu mundo, mas não vejo nenhuma outra alternativa. Na verdade não vejo nada a não ser dúvidas. Ainda a amo muito. É o que eu vejo!
Não questiono mais nenhum motivo e preciso ser eu mesmo agora, sem Penélope e sem você. Peço que deixe-me em paz agora! Peço que tenha paz agora! Peço que use o tempo como curativo para sua ferida, pois eu usarei o meu isolamento para a minha. Peço que seja somente você a partir de hoje. Seja sempre quem você foi e não este estranho que estava se perdendo na própria melancolia.

Espero que sejas feliz!
Saudações,


Julian Carax

Julian havia partido aquela manhã após passar na livraria e deixar um bilhete dentro do meu livro. Ele tomou uma xícara de café lentamente, sem dizer muitas palavras e olhando fixamente para o meu escapulário.
Depois de um longo tempo em silêncio ele comentou:

- Eu a dei um escapulário muito bonito!

Sorriu meio sem graça e desviu os olhos para a pintura na parede. Sua fisionomia era muito triste. Parecia solitário e sofrido.
Repousou a xícara sobre o balcão, tocou o meu ombro, como de costume e saiu sem dizer nada. Pegou o primeiro trem para Bruxelas e achei estranho, pois ele nunca havia falado sobre conhecidos por lá. Julián vaga sem destino a procura de algo o qual nem sabe o que é. A procura de ao menos paz para o coração. A procura de um coração...

domingo, 9 de outubro de 2011

O HORIZONTE!

Julian sentou-se à porta para olhar o pôr-do-sol e aproveitar o calor dos últimos raios que banhavam de ouro as pontas das dunas ao longe. Uma leve brisa trazia o cheiro do mar longínquo ao mesmo tempo em que um bando de aves negras pincelavam o céu amarelado.
Antes que o sol se esvaísse por detrás da duna maior, um vulto branco surgiu ao longe. Julian observou pouco interessado e nem tentou descobrir o que poderia ser, preferindo deixar para o comodismo da proximidade.
O vulto foi tomando forma. Uma forma familiar aos olhos de Julian! O jeito de andar, os cabelos negros voando ao vento... Penélope!
Após sussurrar o nome dela levantou-se vagarosamente e nem se importou com as lágrimas que caíam. Ele deu alguns passos até perceber que suas pernas não o obedeciam. Apoiou-se na pequena cerca branca que circundava a casa e decidiu esperar. Era ela! Ele tinha certeza que era ela! Penélope estava voltando tal qual o dia em que partiu. Era ela que parecia flutuar na areia fina. Era ela, linda...
Penélope aproximou-se mais, tocou a face de Julian sem nada dizer. Olharam-se fixamente por um longo tempo sem precisar de palavras.
Julian nada perguntou! Nem sabia se acreditava na volta de Penélope, mas o fato é que ali estava ela.

Quando ele conseguiu quebrar o silêncio, murmurou:
“- Que bom que está de volta!”
Penélope olhou fixamente para Julian e com os olhos marejados disse:
“- Eu só vim dizer adeus. Não há mais lugar para mim em BHarcelona. Eu não sou a mesma, você não é o mesmo e... eu... nem sei mais se o amo como antes! Um grande navio vai partir em breve e eles precisam se uma cantora para a banda da primeira classe. É minha grande oportunidade!”

Julian somente ouviu e sentia seu corpo petrificar. Um suor frio escorreu-lha às têmporas e a boca seca não conseguia pronunciar o que não veio. E assim permaneceu o silêncio! Um silêncio ensurdecedor que poderia abafar o ruído de mil locomotivas. O silêncio que multiplicava o som das batidas do coração de Julian! E mesmo assim ele preferiu permanecer calado!
Era o fim do dia e novamente o sol lambia o lago com suas madeixas douradas.
Penélope olhava fixamente o horizonte envolvida nos braços de Julian que apoiava o queixo em seus ombros. Ela conseguia ouvir a respiração forte porém calma que fazia tremular os pequenos laços de fitas coloridas que enfeitavam o colo do vestido.

Julian beijou a face de Penélope e disse:
“- Eu tenho um imenso amor! Fique e será só o começo!”
Penélope permaneceu em silêncio durante alguns segundos antes de dizer:
“- Eu preciso ir. Eu quero ir!”

Julian deu um sorriso acalentador, mesmo não querendo sorrir. Não teve vontade de chorar também. Apenas abraçou Penélope pela última vez. Não disse nada. Nem adeus!
Simplesmente continuou sorrindo enquanto observava Penélope desenrolar-se dos seus braços e caminhar vagarosamente para dentro do lago. Seu vestido branco misturando-se com o dourado do sol molhado formava um novo rastro na água. Julian somente olhava Penélope entrar nas águas em direção ao sol que já se escondia por quase completo. E quando já não tinha mais luz dourada ele disse baixinho numa voz quase sem força:
“- O horizonte foi mais tentador!”

Tirou os olhos do lago e fixou em algo no chão. Curioso, passou o pé no objeto para verificar o que poderia ser. Era um dos pequenos laços de fitas os quais enfeitavam o vestido de Penélope.
Era um laço vermelho e estava meio molhado.
Julian pegou-o com cuidado, passou na manga da camisa para tirar um pouco da areia e em seguida guardou no bolso do lado esquerdo da camisa.
Virou-se calmamente e foi caminhando em direção à casa. Durante o percurso ele colocava a mão no peito, pelo lado de fora do bolso, tentando assegurar-se de que o laço ainda estava ali. Não olhou para trás nem sentiu tristeza. Sentiu uma angústia, uma falta de ar, um vazio, mas não sentiu tristeza...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE JULIÁN E PENÉLOPE - Cílios Postiços

Um dia Penélope e Julián sentaram na areia para ver o pôr-do-sol.

Penélope recostou no peito de Julián, suspirou, sorriu e disse olhando para o mar: “amor, quando a gente se casar eu quero usar cílios postiços!”
Julián sorriu, não pelos cílios postiços, mas pela amada o querer tanto.
Fechou os olhos e sonhou dando um meio sorriso.
Eles ficaram ali até o fim do dia e os últimos raios de sol desaparecerem no horizonte.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE JULIÁN E PENÉLOPE I ! Sem fotos

Era um show da dupla Victor e Leo, surgido de ultima hora em algum lugar não muito perto. Julián e Penélope decidiram aventurar-se no meio da multidão e aproveitar um pouco a festa. Em algum momento perderam-se dos amigos e acomodaram-se num local menos tumultuado.

A noite estava fria, caía um sereno gelado. Penélope, ao tentar olhar para o lado oposto, roçou a cabeça no rosto de Julián e ele sentiu o cabelo dela muito frio, mesmo sob o chapéu de cowboy que ela havia comprado há muito tempo em Goiás.
Os olhares cruzavam-se algumas vezes, mas não paravam fixos um no outro, sempre finalizados com um meio sorriso que voltavam-se para a dupla no palco.
As músicas iam embalando o público e o frio aumentando. Juliám fixou o olhar em Penélope e decidiu que não iria desviá-lo, aconteça o que acontecer. Ela estava cantarolando o fim da música e aplaudindo o começo da próxima. Iniciou-se “Tem que ser você” e Julián cantou alto ainda olhando fixamente para Penélope. Ela esfregou os braços sinalizando sentir mais frio. Ele a abraçou e passou a ponta do nariz em seu rosto. Ela sorriu, ainda olhando para o palco. Entreabriu a boca, como quem se prepara para dizer algo, respirou fundo, colocou a mão no chapéu e tirou-o. E ainda virando para Julián disse: “vamos acabar com isso logo!”
Não teve tempo pra olho no olho, não teve tempo para perguntas! Simplesmente se beijaram enquanto parecia que o operador de áudio havia aumentado o volume só para eles!
Não recordo muito bem o que veio depois disso, mas a música caiu bem para a ocasião e para sempre!

Música de hoje:
Victor e Leo - Tem que ser você

sábado, 20 de agosto de 2011

O CONSTRUTOR!

O ser humano muitas vezes tem o hábito de estragar algumas coisas boas na vida dele! Pelo menos grande parte disso!
Talvez por imaturidade, talvez por falta de lucidez... ou até mesmo por excesso de zelo! Talvez por desespero, talvez por medo. O medo de que tudo se desmorone, faz realmente com que aconteça. E quando acontece vem a célebre pergunta: "O que fazer agora?"
E assim foi comigo: tive medo, tive zelo, tive loucura e então, desmoronou! E eu fiz, na verdade ainda faço a cada dia, a pergunta acima.
O sentimento que tenho é idêntico ao que tinha quando fazia algo errado e ficava com medo de apanhar da minha mãe. E às vezes eu sabia que ia relamente apanhar para aprender a não fazer mais aquilo, mesmo sem ter intenção nenhuma de fazê-lo, mas também, por tanto medo, por tanto pavor, não conseguir me explicar.
E a gente vai crescendo e cometendo outros erros e a vida passa a ser a mãe que pune e novamente recebemos a punição sem consegur explicar nada. Na tentativa de explicar esquecemo-nos dos escombros no chão.
E agora eu tento juntar o que sobrou, avaliar as fundações e o estrago causado a elas e saber se ainda suportam outra construção! Ainda mais delicado é saber onde pisar, se ao redor ou se por dentro... caminhar com cuidado. O bom construtor preocupa-se com as fundações. E na engenharia da minha vida ainda pretendo reforçar as bases. Ainda pretendo juntar o que sobrou e re-construir.
Julián ainda vai tentar salvar o que resta. O amor por Penélope continua forte, até o dia em que ela decidir não aceitar mais tal sentimento. Ele ainda acredita que exista algo nos escombros do velho Anjo de Brumas.
Jullián Carax e Penélope Aldaya! Esperança de um RE - AMOR!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PAPAI DO CÉU MANDOU DIZER!

Há mais de um ano Penélope havia desaparecido nas dunas. Julián não a procurara mais. Vivia de lembranças repentinas que o faziam ficar parado, melancólico, desligado por alguns momentos. Vários momentos durante o dia! Vez ou outra uma lágrima caía puxando mais algumas teimosas que desejavam os beijos delicados no olho de Julian.
Era o fim do dia na velha BHarcelona. As pessoas caminhavam apressadas para suas casas. Só Julian que não tinha pressa. Saiu da livraria mais cedo, caminhou vagarosamente pela calçada. Olhou o reflexo do sol ainda alto na poça d’água que beirava o meio fio. Seu pensamento era só Penélope naquele dia. Até tentou se distrair, com os jogadores de damas, mas ela era insistente.
Olhou para os laços de fita na vitrine, viu a garrafa de vinho preferido na mesa do restaurante, ouviu a música que ambos gostavam.
Quando percebeu já estava no parque da cidade. Observou os cisnes no lago e os casais que conversavam sob o agradável sol de um inverno não muito frio.
Uma doce voz cantava uma música cuja letra marcou Julian. Ele fechou os olhos para ver Penélope caminhou no gramado em sua direção. Ele não queria abrir os olhos mas foi forçado por um toque frio em seu braço. Era a mão de um velho mal vestido. O homem o encarava com certa brandura. Julian enfiou a mão no bolso e tirou uma moeda, mas antes que esticasse o braço o velho recusou a doação e disse:
- Não é dinheiro que você precisa doar! Não preciso de nada também. Acalme o seu coração e prepare-o para o momento em que você despejará no lugar certo todo amor que leva contigo. Ela está mais próxima do que imagina!
Julian apoiou o rosto nas palmas das mãos e caiu num choro intenso sem se preocupar com quem caminhava pelo parque. Uma garotinha aproximou-se com um lenço o qual embrulhava uma maçã, ofereceu o tecido a Julian e disse:
- Não chore, moço. Vai passar logo!
Sem olhar para a criança ele pegou o lenço, enxugou os olhos, agradeceu e continuou sua caminhada vagarosa para casa. Enquanto caminhava e bem perto de onde estava sentiu uma mão macia tocar a sua. Era a mesma menininha do lenço. Ela o olhou novamente, pediu para que ele se abaixasse, pos sinalizou que diria um segredo. Ele abaixou-se sorrindo pela metade e ofereceu o ouvido para a pequena que disse baixinho em voz rouca:

- Papai do céu mandou dizer que você vai ficar bem!



domingo, 31 de julho de 2011

PARA O ROCK

Era manha de um dia  qualquer quando minha colega de trabalho me disse: Hoje é o dia do Rock! Coloca no seu perfil do facebook a foto do seu ídolo. Achei legal e coloquei a foto do Elvis!
Um dia depois do dia do rock; mesmo sem perceber que o meu blog se arrastou cômica e melancolicamente pelo seu segundo ano de vida; eu peguei o ônibus relativamente atrasado e um pouco arependido por não vestir uma blusa, pois um vento frio me cortava a lateral do braço. Não me preocupei com o restante do mundo e levei meu "autismo"a sério naquele momento. Só eu e meu fone de ouvido transitávamos pelas ruas da cidade num transe indescritível.
Acho que cantei alto algumas vezes  e repeti várias outras músicas das quais mais gosto. O Playlist daquela manhã estava carregado de guitarras.
Ah! O mestre Satriani rasgava o último volume e abriu caminho para os Talking Heads. E eu me imaginava cantando em minha própria festa!
Desci do ônibus "batucando"com as cordinhas das mochilas e subi a Rua da Bahia, como de costume. Dire Straits me levou até o seu Tunnel of Love quando eu me assustei com um senhor que puxava o seu carrinho de compras. Atravessei uma avenida, desci uma rua e deparei-me na porta do prédio do meu trabalho. Fiquei ali parado esperando a música acabar e assim poder voltar ao mundo dos normais depois de  um começo de manhã embalado pelos resquícios do dia do Rock.

PLAYLIST DA MANHÃ:
Satriani - If I could fly
Talking Heads - Psyco Killers
ACDC - Highway to Hell
Dire Straits - Tunnel of love


terça-feira, 17 de maio de 2011

O CAMINHO DO SOL

Julian caminhou exaustivamente para dar a volta no lago que parecia não ter fim. Subiu numa duna e ao longe avistou Penélope. Ela parecia agitada e feliz ao mesmo tempo. Brincava com o vento e alguns pássaros a acompanhavam no que parecia uma dança.

Julian sentiu imensa emoção ao ver a amada. Resolveu inutilmente gritar. Ela não podia ouvi-lo a uma distância que parecia curta. Era muito longe! Penélope seguia sem olhar para trás enquanto o vento brincava com seu longo vestido.
Julian chamou dezenas de vezes. Gritou o mais alto que pode, sem sucesso. Decidiu correr para alcançá-la, mas a cada passo parecia afundar na areia macia. Desesperou-se e caiu cansado, respirando forte enquanto Penélope desaparecia no horizonte trêmulo.
Julian levantou-se e teve que fazer um esforço tremendo para manter-se de pé. Cada passo era dado com dificuldade em direção a um arbusto do qual ele só havia percebido a presença há poucos segundos. Prostrou-se sob a sombra e tentou chamar pela amada mais uma vez, no entanto, nem a imagem dela estava mais lá.
Sentiu sede, fome e tristeza ao mesmo tempo.
Percebeu uma imagem escura aproximando-se vagarosamente. Era um beduíno montado em um jumento.

- Divide a sombra comigo? Disse o viajante.
- Fique à vontade! Respondeu Julian arredando o corpo para o lado.

O homem vestia roupas grossas e exalava um cheiro forte de estábulo.

- O que faz você por aqui, sozinho? Perguntou o homem a Julian.
- Estou a procura da minha amada. Ela foi em direção ao sol, logo ali naquela duna.
- Por ali não vi ninguém passar por mim. Confirmou o viajante.
- Tem certeza? Duvidou Julian
- Absoluta! Mas você vai continuar a caminhar por este deserto sem fim?
- Sim! Até encontrá-la.
- E que vai te dar forças?
- O meu imenso amor!

O viajante deu uma gargalhada que ecoou pelas dunas ao longe.

- Imenso amor? imenso é este deserto. Você é ridículo, mas acho que posso acreditar em você! Você me venderia esse amor? Pago cinqüenta moedas de ouro por ele!
- E o que eu faria com tanto ouro?
- Compre outro amor! É muito fácil! Venda-me o seu, volte para a cidade e compre todo amor que desejar!

Julian sentiu-se envergonhado e nervoso com a oferta:

- E onde encontrarei um amor que me faça feliz? Um amor puro sem limites; um amor tão grande, cuja palavra “amor” não seria suficiente para defini-lo. Um amor acima da distância e das circunstâncias. Onde estaria? Eu vendo-lhe o meu amor e compro a informação. O meu amor acabou de desaparecer por trás daquela areia toda!

Julian chorava sem forças para prosseguir em sua busca por Penélope. Tentou gritar, mas a voz não era suficiente. Suas lágrimas secaram...
O viajante levantou-se vagarosamente apoiando-se no ombro de Julian. Prosseguiu sua caminhada puxando o jumento. Sem olhar para trás disse:

- Tenha calma! O amor ainda está por perto. Depende de você. Não tente gritar. Caminhe vagarosamente, um passo após o outro. Penélope está mais perto a cada passo. Limpe os seus olhos e veja além do que a areia esconde.

O sol lambeu a duna mais distante e derramou seu dourado pela vastidão.

Julian decidiu que por hora era melhor repousar por ali.

Playlist:
Água de Oceano - Victor e Leo

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O CAMINHO DESCONHECIDO!

Julian acordou no meio da noite e não viu Penélope ao seu lado. A luz do corredor estava acesa, mas nenhuma movimentação indicava a presença de alguém no restante da casa.
Julian levantou-se, passou pelo corredor, chegou até à sala e viu que a porta da frente estava entreaberta, deixando o vento entrar brincando com a cortina. Olhou para fora e viu que o sol já se preparava para nascer. Desceu as escadas e cmainhou um pouco mais até a areia e viu os rastros da amada. seguiu-os até o lago. As marcas acabavam a beira d'água...
Um súbito desespero tomou conta do peito de Julian. Ele ficou por horas olhando as águas do lago sendo tingidas de ouro pelo sol matutino.
Um pequeno lenço o quel ele havia presenteado Penélope tremulou preso a um arbusto. Julian pegou-o, sentiu o cheiro do perfume ainda fresco. Enchugou uma lágrima solitária, colocou o lenço no bolso e após olhar para a água por toda a manhã, voltou vagarosamente para casa. Fechou a porta e fez uma oração. Não sabendo qual nem para quem. Simplesmente fez uma oração!
O rádio ligado tocou milhares de canções naquele longo dia e Julian, prostrado à varanda do seu quarto olhava o horizonte que recebia novamente o sol. Desjou não sonhar nunca mais. Desjou perder a memória, os sentidos, a razão! Desejou morrer! Desejou ter ódio. Uma imensa raiva o fez transpirar e ele prometeu nunca mais amar. Teve pen de si mesmo e teve vergonha da autocompaixão exagerada.
Saiu da casa e não fechou a porta nem as janelas. Caminhou longos passos, parou e olhou para trás. Virou novamente e seguiu caminhando por uma pequena trilha solitária e suja, a qual nunca havia passado. Seguiu vagarosamente sem parar. Deixou a casa aberta, o rádio ligado o fogo na lareira. Simplesmente deixou...e seguiu trôpego por aquele caminho desconhecido.

Playlist:

Rascall - What hurts the must
Rascall - Stand
Jota Quast - O que eu também não entendo

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

GIZ!

Tem dias que a gente se sente estranho demais para o mundo em que estamos inseridos. Tem dias que eu me impressiono com minha idiotices, no entanto só descubro que foi algo idiota uma hora depois do ocorrido. Acho que sou salvo pela luta anti-manicomial, caso contrário já estaria internado por mim mesmo.

Eu voltava para casa depois do trabalho. Passei por um caminho diferente em direção ao metrô, na tentativa de perceber uma cidade a qual eu passara muito tempo sem ver. Os prédios antigos em meio aos novos; as pessoas apressadas e os carros apertados pelas ruas estreitas.
Em pleno calor do verão, parei para esperar uma chuva inesperada e passageira. Fiquei ali olhando o chão enquanto as gotas caíam e apagavam um sol que alguém desenhou no passeio.
Eu e minha memória seletiva! Era a música do Legião (Giz) acontecendo em minha frente. Quem nunca teve sua fase Legião Urbana que me desculpe o privilégio!
Pronto. A chuva passou! Mas eu não me movi. Desejei imensamente continuar a música. E daí vieram os questionamentos, a vergonha e... a empolgação! Lá vem ela outra vez pra me fazer passar vergonha em pleno centro de Belo Horizonte.
Hum! Mas não tem nem giz. Oops! Tem tijolo de construção. É A música!
Feito!
Peguei um pedaço de tijolo e desenhei novamente o sol que a chuva apagou.
E vocês pensam que eu não cantei? Claro que desenhei cantando ainda.
Levantei-me, limpei a mão na calça jeans já suja, segui meu caminho para casa!

Play list de hoje, adivinha?
Giz – Legião Urbana

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A VOLTA PARA CASA!

A longa viagem tornou-se inesperadamente mais longa por causa de uma tempestade que quase devastou o navio e deixou Julian enjoado e entediado. Há muito tempo longe de casa pela primeira vez não desejava a volta. Sentia um frio cortar o coração à medida que se aproximava do porto. Desejava que o navio se perdesse e ficasse à deriva para sempre. Desejava que o porto jamais fosse encontrado. Desejava que um terremoto arrancasse Bharcelona da face da terra. Enquanto o navio sacudia sobre as imensas ondas ele ignorou tudo e desejou ser lançado ao mar por uma rajada de vento.

Nada disso aconteceu!
Simplesmente o navio atracou como sempre. As pessoas estavam no porto esperando seus familiares. Julian olhou os rostos desconhecidos cujos olhos procuravam curiosos cada passageiro que descia. Sentiu um perfume de uma jovem moça que esperava o seu pai. Era o mesmo perfume de Penélope! Com ele vieram todas as lembranças de um amor que pareceu eterno. Um amor agora ameaçado.
Julian tentou sentir-se irritado e desejou odiar Penélope. Odiou a si mesmo num repúdio posterior. Era um verão de sol escaldante que o forçou a tirar o paletó e parar para descansar. Olhou a cidade de baixo para cima e teve a impressão de ser um estranho na sua própria cidade. Sentiu que algo faltava em sua bagagem, mas descobriu que a falta era em seu coração.

- Penélope, Penélope, Penélope... Sussurrou baixinho na esperança de rever a amada!

Enxugou o suor da testa e seguiu a rua em direção a sua casa. A porta da residência parecia o portão de um calabouço. Não teve coragem de abrir e ficou ali parado com a chave na mão encarando a porta monstruosa. A rua deserta de domingo brilhava com a água costumeira que descia jogada pela vizinha para amenizar o calor.
Tomou coragem e abriu a porta. O primeiro raio de luz que entrou expulsou o ar de solidão que tomava conta da sala. A mala que pendia na mão esquerda caiu subitamente e Julian prostrou junto com ela ali mesmo perto da velha vitrola que abrigava uma fina camada de poeira.
O cansaço não impediu que as lágrimas viessem e num choro silencioso e solitário Julian ficou ali no chão chamando por sua amada.
Ela não estava mais ali e provavelmente não voltaria!
Juian enxugou as lágrimas e olhou para o chão logo abaixo do sofá. Viu a ponta de um cartão cujo carteiro havia jogado por debaixo da porta. O forte impulso fez com que a correspondência se projetasse para o canto do cômodo, alojando-se embaixo do móvel.
Era um cartão enviado por Penélope com palavras de carinho, no entanto, as palavras machucavam muito. Entravam no coração de Julian como pregos. Ele chorou novamente. Subiu para o seu quarto, deitou abraçado ao cartão e releu a mensagem milhões de vezes até adormecer!

Julian,

Cada novo lugar ou mesmo cada novo olhar sobre um mesmo lugar me faz querer você comigo para dividir esses momentos.
Aproveito para dizer FELIZ ANIVERSÁRIO, FELIZ NATAL E FELIZ ANO NOVO!
Saudades!

Te amo, Penélope.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Minha Penélope!


Julian dormiu tarde naquela noite chuvosa. Seu coração palpitava descompassado enquanto o rádio tocava uma canção antiga. Demorou para adormecer e logo em seguida sonhou com Penélope. Ela estava numa praia deserta vestida um longo vestido perolado. Ela caminhava vagarosamente mar adentro enquanto as ondas lambiam as longas vestes.
Ele tentou gritar mas nenhum som saiu da sua boca.
Ela virou-se e fitou os olhos marejados. Voltou até Julián e deu-lhe um demorado beijo em sua face. Logo em seguida ele viu-se lendo em voz alta a carta que acabara de colocar nos correios.

Sim eu quero ficar com você!

Sem saber do amanhã, pagando as conseqüências de ontem!
Não terei ciúmes...
Vou falar que você é minha amiga,
E no fim, quando sua viagem acontecer...
Vou ter ótimas lembranças, mesmo que nosso caso só dure mais um show!
Mesmo que eu sofra,
Mesmo que eu morra,
Mesmo que nada mais aconteça...
Vou ter você sempre no meu coração!

Não quero dizer-lhe o que deves fazer, mas não precisa se lembrar sempre de mim ou colecionar as joaninhas que eu te dei. Nem esquecer os papeizinhos dentro do fusca de gesso.
É para dizer como você mexeu comigo e me ajudou. Me amando, você fez de mim um homem e por isso eu sou eternamente grato! Se consegue me prometer alguma coisa, prometa que sempre que se sentir triste ou insegura, ou perder completamente a fé, vai tentar olhar para si mesma com meus olhos. Os mesmos olhos sempre beijados por você.
Obrigado pela honra de ter você como uma companheira! Não tenho que lamentar. Tive muita sorte! Você foi a minha vida e pode parecer que eu fui apenas um capítulo da sua. Haverá mais!
E se eu me atrevesse a te dar algum conselho diria para não ter medo de se apaixonar de novo sabendo que as coisas sempre mudam.
O meu imenso amor é capaz de deixar-lhe livre se isso for para sua felicidade. Eu te amei antes de perceber que te amava, mas não me permitia sentir, tomando decisões para me livrar do medo. Mas hoje, pelo que aprendi com você, cada escolha foi diferente e minha vida mudou completamente. E aprendi que quando se faz isso vivemos com mais intensidade. Não importa se ficamos juntos ou separados, um ano ou um século. Se não fosse por você eu não teria conhecido o amor! Então, obrigado por ser a pessoa que me ensinou a amar! E ser amado!
Lembra-se na véspera da sua partida quando eu disse-lhe que o meu peito doía? Pois eh! Hoje o meu peito dói mil vezes mais!
Duas coisas acontecerão a partir de hoje: Eu não sei viver sem você, no entanto, terei que aprender!
No ano novo não pedi nada. Apenas fiz uma promessa! Prometi que te amaria tão intensa e cegamente, mas percebi que já o fazia antes de prometer. Então prometi que te amaria mais do que hoje.
Não faço súplicas nem culpo você por nada, pois a culpa não tem espaço entre os que amam. Eu somente te amo!


Eu te amo!


E quando quero te ver, simplesmente fecho os olhos!

Com amor,

Julian.