terça-feira, 20 de abril de 2010

A GRANDE IDEIA!

.
.
Não dormi tarde aquela noite. Fiz algumas palavras cruzadas e esperei o sono chegar. Ele veio cedo e eu me rendi sem muita resistência. Às 7:15 da manhã, como de costume, o meu despertador tocou, mas eu não me movi. Ele chamou insistente pela segunda vez. Nem pensei em nada quando o desliguei e mantive-me imóvel na cama.
“Só mais dez minutos!” Reclamei em voz alta. Seriam mesmo dez minutinho até eu decidir que não iria à academia, nem iria correr, nem me mover durante dez míseros minutos.
Foram os dez minutos mais longos da minha vida, pois quando olhei novamente no relógio ele parecia me repreender e já marcava 9 da manhã! Que desastre! Estou atrasado.
Num único pulo já estava tomando banho e escovando os dentes. Acho que perdi a ordem correta das ações que normalmente seria: levantar, pegar toalha, ir para o banheiro, tomar banho, escovar os dentes, pentear cabelo, desodorante, perfume, calça, tênis, camisa, mochila, café, saída!
Neste dia foi tudo embaralhado!
Fui para o banho escovando os dentes e não levei toalha. Voltei molhado e tentei me enxugar de qualquer jeito. Calcei as meias e um pé do tênis e logo depois tentei vestir as calças. Molhei a meia no chão ensopado. Esqueci o desodorante, corri na cozinha e peguei uma fatia de pão. Voltei ao quarto para pentear o cabelo e vi que a camisa estava ao averso. Vesti a camisa. AH! O desodorante. Tirei a camisa. Passei o bendito. Agora tem que esperar secar um pouco.
Parei, concentrei no que estava fazendo. Olhei no relógio novamente e ele me olhava mais nervoso.
Liguei o ventilador, sentei na cama e recomecei tudo calmamente. Só assim consegui sair de casa como alguém quase normal que não penteia o cabelo e usa meias diferentes.
Mas pra falar a verdade, foi o melhor atraso que tive ultimamente. A hora e meia que eu gastei desmaiado valeu por toda a noite. O dia de academia que eu matei não me matou. Vou ao menos colocar os óculos escuros neh! E quando olhei no reflexo da janela vi uma figura descabelada com cara de ressaca.
"E agora? Como vou encarar o centro da cidade com esse cabelo assim?"
Às vezes vale à pena atrasar um pouco e desorganizar o roteiro da vida, mas eu estava muito esquisito e ninguém me olhava esquisito. Pensei em descer perto de uma farmácia e comprar um gel de cabelo e dar uma bagunçada organizada na peruca. Mas gel custa caro e eu não me prontifiquei a comprar um pote do produto só por causa disso. Mas também não tinha uma escova de cabelo. Desci do ônibus no ponto de semrpe, logo em frente a um sacolão. Tive a grande idéia: clara de ovo! É um tipo de gel, é mais barata e muito eficiente. Comprei um ovo por R$0,50, guardei-o na mochila e desci correndo para o escritório a fim de executar mais uma idéia brilhante. E fiquei me perguntando: "por quê as pessoas compram gel se clara de ovo é mais barata?"
No decorrer do dia descobri que comprar um potinho de gel pode ser mais caro, mas é bem melhor do que separar a gema da clara e não ficar o dia inteiro com cheiro de ovo.
.
.
.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A DEDICATÓRIA

.
.
Frequentemente tenho impressões equivocadas sobre os livros. Muitas vezes os compro por impulso ou pelo título chamativo. Fujo dos “best sellers” e abomino os de auto ajuda. Penso que estes são chamativos para vendas e aqueles são massificantes.
No entanto, seguindo a contramão das minhas teorias me rendi ao “Vendedor de sonhos”que se enquadra nas duas categorias citadas. Descobri sua fábula urbana que mostra como pessoas comuns se tornam especiais em busca do amor à vida. Algo bem diferente dos big brothers! Odeios certas acusações à mídia e seus conceitos éticos e acredito que quem tem o poder e o controle remoto é o telespectador. Nós somos o que nós comemos e assistimos. Todos comemos e assistimos porcarias, cada um em seu nível desejado.
O que mais me cativou no livro foi a dedicatória de quem me presenteou, na segunda folha:

Rangel,

"Pra você que vive a mil por hora, com a mochila nas costas, cheia de notas, cadernos, pagamentos, papéis, planilhas, relatórios... tudo isso misturado a um punhado de sonhos, correndo os quatro cantos do Brasil e de portas abertas para o mundo.
Pra você que valoriza as pessoas e os encantos da vida!
Pra você (que também é vendedor de sonhos) ofereço a chance de se identificar e se reconhecer no contexto e nos valores desse livro."

Beijos,

Joanna.
.
.

O BILHETE NO LIVRO

.
.
Minha Penélope,

Hoje desci a Av. del Tibidabo. O velho Anjo de Brumas estava lá solitário, como sempre. Parecia que me olhava interrogando-me sobre sua ausência. Vi as grades por onde um dia joguei algumas rosas que levaram um recado meu. Hoje as grades abrigam uma solidão e prendem uma saudade furiosa, tal qual uma fera incontrolável.
Mas, em lembrança você é tão clara e tão doce que chego a sentir sua presença física.
E suas cartas mantem o meu coração aquecido até o dia em que terei você comigo novamente.
Enquanto eu descia a rua a brisa gelada cortava o meu rosto e ao longe um rádio tocou duas músicas que me fizeram lembrar de nós, mais uma vez. Encurtei os passos e sorri sozinho para olhar as ondas tímidas daquele dia sem sol. Lembrei do seu bilhete no meu livro:

“O importante e imprescindível é gostar de sentir os gostos, os cheiros e o olhar imaginário que as linhas escritas provocam!”
te amo!
Julián Carax

Músicas :
Kate Voegele – Lift me up
New Radicals – Some day we’ll know
.
.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

DEVANEIOS TOLOS DE METRÔ!

.
.
Os dias quentes que antecederam o feriado de páscoa pareciam intermináveis e indecisos com suas manhãs ensolaradas e as tardes chuvosas.
Mergulhei numa apatia imensa para abster-me a tudo que me circundava e nem as roupas que se acumularam no baú, na máquina, no varal e na taba de passar se mostraram impacientes com meu estado letárgico.
A esta altura Luzia, a costureira, já era famosa no sertão por acompanhar o Falcão e seu bando de cangaceiros em busca de comida e justiça para os desamparados.
Fernanda Takai retornava meio anormal ao meu MP3 em cenas repetidas dentro do metrô. Acho que consegui a proeza de entrar no mesmo vagão e sentar no mesmo banco todos os dias daquela semana. Passava pelo túnel, ouvia a moça vender brigadeiro numa frase repetitiva e ininterrupta : “olha o brigadeiro 1 real com leite condensado e chocolate!”O calor também o mesmo durante estes dias, seguido pelo irritante tremor no meu olho esquerdo. E o inevitável aconteceu: Minha habilidade em criar coisas imaginárias absurdas num trajeto tão curto entre uma estação e outra. Uma dessas criações foi imaginar a possibilidade de ter que descer do metrô para empurra-lo após uma pane real que nos deixou parados por 10 minutos. Tempo suficiente para longos devaneios que me fizeram rir sozinho.
No mesmo metrô havia uma moça que entrou na mesma estação que eu. Sentou no banco em frente e começou um ritual interessante enquanto tudo acontecia:

ESTAÇÃO HORTO!
Hoodoo Gurus já estava a 1000 miles Away e a moça com um espelho minúsculo se orientava na maquiagem passando batom.

ESTAÇÃO SANTA TEREZA!Sinatra a tinha under my skin e a moça passava lápis preto no contorno do olho esquerdo. “Será que ela é canhota?” Pensei comigo, pois os destros sempre tem o hábito de usar primeiro o lado direito. Se ela começou pelo olho esquerdo, pode ser que seja canhota.

ESTAÇÃO SANTA EFIGÊNIA!Os Paralamas já estavam indo a qualquer lugar levando você no olhar e a moça passando lápis no contorno do olho direito. Alheia a qualquer coisa que acontecia fora das bordas do pequeno espelho ela espalhou pó pelas maçãs do rosto com gestos circulares rápidos e hábeis.

ESTAÇÃO CENTRAL!Todos desceram frenéticos e se empurraram na descida da escada rolante. Eu e John Mayer ficando por ali waiting on the world to change e o fluxo de pessoas diminuir. Desci as escadas e fui seguindo pelo corredor, acompanhando a procissão de trabalhadores.
Em um gesto inusitado a mesma moça estava próxima às roletas trocando a sua rasteirinha por um sapato de salto.
Em seguida todos desaparecemos no meio da multidão seguindo nossos destinos estranhos.

LIVRO CITADO:A Costureira e o Cangaceiro – Frances de Pontes Peebles

O QUE TOCAVA EM MEU MP3:
Pato Fu - Anormal
Hodoo Gurus – A 1000 miles away
Frank Sinatra – I`ve got you under my skin
Paralamas do Sucesso – Aonde quer que eu vá
John Mayer – Waiting on the wolrd to change
.
.
.