domingo, 9 de outubro de 2011

O HORIZONTE!

Julian sentou-se à porta para olhar o pôr-do-sol e aproveitar o calor dos últimos raios que banhavam de ouro as pontas das dunas ao longe. Uma leve brisa trazia o cheiro do mar longínquo ao mesmo tempo em que um bando de aves negras pincelavam o céu amarelado.
Antes que o sol se esvaísse por detrás da duna maior, um vulto branco surgiu ao longe. Julian observou pouco interessado e nem tentou descobrir o que poderia ser, preferindo deixar para o comodismo da proximidade.
O vulto foi tomando forma. Uma forma familiar aos olhos de Julian! O jeito de andar, os cabelos negros voando ao vento... Penélope!
Após sussurrar o nome dela levantou-se vagarosamente e nem se importou com as lágrimas que caíam. Ele deu alguns passos até perceber que suas pernas não o obedeciam. Apoiou-se na pequena cerca branca que circundava a casa e decidiu esperar. Era ela! Ele tinha certeza que era ela! Penélope estava voltando tal qual o dia em que partiu. Era ela que parecia flutuar na areia fina. Era ela, linda...
Penélope aproximou-se mais, tocou a face de Julian sem nada dizer. Olharam-se fixamente por um longo tempo sem precisar de palavras.
Julian nada perguntou! Nem sabia se acreditava na volta de Penélope, mas o fato é que ali estava ela.

Quando ele conseguiu quebrar o silêncio, murmurou:
“- Que bom que está de volta!”
Penélope olhou fixamente para Julian e com os olhos marejados disse:
“- Eu só vim dizer adeus. Não há mais lugar para mim em BHarcelona. Eu não sou a mesma, você não é o mesmo e... eu... nem sei mais se o amo como antes! Um grande navio vai partir em breve e eles precisam se uma cantora para a banda da primeira classe. É minha grande oportunidade!”

Julian somente ouviu e sentia seu corpo petrificar. Um suor frio escorreu-lha às têmporas e a boca seca não conseguia pronunciar o que não veio. E assim permaneceu o silêncio! Um silêncio ensurdecedor que poderia abafar o ruído de mil locomotivas. O silêncio que multiplicava o som das batidas do coração de Julian! E mesmo assim ele preferiu permanecer calado!
Era o fim do dia e novamente o sol lambia o lago com suas madeixas douradas.
Penélope olhava fixamente o horizonte envolvida nos braços de Julian que apoiava o queixo em seus ombros. Ela conseguia ouvir a respiração forte porém calma que fazia tremular os pequenos laços de fitas coloridas que enfeitavam o colo do vestido.

Julian beijou a face de Penélope e disse:
“- Eu tenho um imenso amor! Fique e será só o começo!”
Penélope permaneceu em silêncio durante alguns segundos antes de dizer:
“- Eu preciso ir. Eu quero ir!”

Julian deu um sorriso acalentador, mesmo não querendo sorrir. Não teve vontade de chorar também. Apenas abraçou Penélope pela última vez. Não disse nada. Nem adeus!
Simplesmente continuou sorrindo enquanto observava Penélope desenrolar-se dos seus braços e caminhar vagarosamente para dentro do lago. Seu vestido branco misturando-se com o dourado do sol molhado formava um novo rastro na água. Julian somente olhava Penélope entrar nas águas em direção ao sol que já se escondia por quase completo. E quando já não tinha mais luz dourada ele disse baixinho numa voz quase sem força:
“- O horizonte foi mais tentador!”

Tirou os olhos do lago e fixou em algo no chão. Curioso, passou o pé no objeto para verificar o que poderia ser. Era um dos pequenos laços de fitas os quais enfeitavam o vestido de Penélope.
Era um laço vermelho e estava meio molhado.
Julian pegou-o com cuidado, passou na manga da camisa para tirar um pouco da areia e em seguida guardou no bolso do lado esquerdo da camisa.
Virou-se calmamente e foi caminhando em direção à casa. Durante o percurso ele colocava a mão no peito, pelo lado de fora do bolso, tentando assegurar-se de que o laço ainda estava ali. Não olhou para trás nem sentiu tristeza. Sentiu uma angústia, uma falta de ar, um vazio, mas não sentiu tristeza...