sábado, 27 de dezembro de 2008

MORMAÇO DE SÁBADO



Um sábado de manhã nublada, com a chuva ameaçando desabar, nada de interessante além de dormir surgia em mente a fim de salvar a monotonia que se anunciava.
Seguimos para Almenara para resolver algumas pendências e logo surgiu a oportunidade de visitarmos um sítio de um amigo da minha tia! Típica citação de coisa chata: "sítio do amigo da tia... blá, blá, blá!!!!
Seguimos pela estrada até chegarmos em uma pequena casa simples às margens da rodovia e à beira do Rio Jequitinhonha com suas águas embarreadas pelas chuvas!
A partir daí, um clima de cordialidade se instalou sobre todos e o mais difícil de uma visita aconteceu: sentir-me à vontade em casa de desconhecidos! Logo de início me senti muito bem acolhido! O sol tímido, porém presente e nada fraco se fez concreto duarante todo o dia!A Câmera saltou da bolsa e começou a trabalhar enquanto a turma se divertia na piscina! Eu me divertia do meu jeito, pois não sou muito fã de piscinas, água, mar ou coisa parecida que seja normal de um ser humanos terráqueo!
As fotos foram surgindo naturalmente e durante uma tarde, já tinha material suficiente para um álbum!
Não é preciso sofisticação para se ter uma tarde agradável! O mais importante é companhia!
E neste dia eu estive no lugar certo, no dia certo, com as pessoas certas!
PONTO PRA MIM!
Abaixo a minha chatura e monotonia!!
Abençoado Sítio das Araras!

http://picasaweb.google.com/rgelrgel/STioDasAraras?authkey=Gv1sRgCI2a15rvmevzogE#

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Rio de Janeiro para Mineiro!

O Rio, sempre lindo, apesar de todos os problemas!
Numa viagem meio relâmpago, estava eu embarcando para a "Cidade Maravilhosa" somente por um pequeno detalhe que no momento não vem ao caso.
A falta de tempo e o tempo nublado me forçaram a criar alternativas de diversão tradicionais. No Rio de Janeiro? Muito fácil!
Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Copacabana, Ipanema e algo do tipo, estavm realmente fora do meu roteiro. Primeiro por estarem geograficamente impossível; segundo porque eu procurava algo mais interessante!
Após resolver as pendências no início da manhã, segui para o centro da cidade a fim de conferir o Centro Cultural Banco do Brasil. Foi o único erro, pois os museus não abrem nas segundas-feiras!
Diante dessa frustração, nada como dôce para repor energias! Visitar a tradicional CONFEITARIA COLOMBO e seus milhares de doces, bem ali na Rua Gonçalves Dias. Over dose de guloseimas (bolinho de siri, Pastel de camarão, tortinha de maracujá e rocambole de chocolate) sempre fez bem! Comer enquanto se olha o teto é uma reação interessante naquele magnífico lugar.
Saindo pelo centro e suas ruas antigas, decidi tomar o bonde para Santa Teresa e conferir as peculiaridades dali.R$ 0,60 por uma corrida acima dos Arcos da Lapa, da Fundição Progresso e do Circo Voador são bem razoáveis por uma visão interessante da cidade.
As ruelas com suas lojas de artesanato e o merecido destaque para o LOLA CAFÉ E ATELIÊ, com o seu crédito de confiança inovador! Os diversos restaurantes e suas comidas saborosas se espalham pelos cantos do bairro. O SOBRADO DAS MASSAS foi onde encontrei u almoço executivo por um preço justo num lugar totalmente feito para turistas, inclusive as tarifas!
O centro me recebeu novamente, quente como o Rio sempre é, sob um sol escaldante, segui me embrenhando até chegar à Central do Brasil. Meio hipnotizado com tamanha imensidão, fiquei algum tempo apreciando a arquitetura do local.
De volta para a casa da minha amiga Bebel, estava certo de ter feito um ótimo passeio.
Por falar em amigos, sempre sou muito bem recebidos por eles quando visito a Cidade Maravilhosa.
Os roteiros feitos por bebel, me fizeram exatamente chegar nos lugares onde não tinha a mínima ideia de onde eram. Numa folha de caderno:

Ida
Pegar 226 (integração) + metrô e saltar na estação Botafogo (saída Rua São clemente)
- Pegar taxi p/ subir rua São Clemente

Humaitá - Centro

-pegar qualquer ônibus na R. Voluntários da pátria que pare na 1o. de Março. Pedir para saltar no último ponto (perto do CCBB)


Volta p/ Grajaú

Pegar Metrô na Estação uruguaiana ou carioca sentido Zona Norte.
Saltar na Praça Saens Pena e Pegar integração 226 p/ o Grajaú.

No fim do dia, um belo lanche com Thaísa e Bebel sob o morro da Urca, no Círculo Militar, fechou a minha visita pelo Rio de Janeiro!
Agradeço às minhas sempre cordiais amigas que fazem com que a cidade delas se torne para mim ainda mais MARAVILHOSA!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

RATOS, CIRCOS, ELEFANTES E CINEMA!

A noite de Belo Horizonte é realmente extraída de algum filme do Telecine Classic. Sempre achei isso, mas ontem, quando voltava para casa relembrei este sentimento. Me embrenhando inocente e negligententemente por ruas quase desertas pude perceber o clima cinematográfico de um dia úmido em BH. Um camundongo com um ar autoritário (e tão cidadão familiarizado quanto eu) passou apressado em minha frente e seguiu em direção à uma caixa de verduras no canto da parede mal iluminada! O viaduto Santa Teresa passava sobre mim com suas luses amareladas e seus lustres antigos. Aí percebi o que Drumond sentia nessa nessa cidade!
Alcancei a estação do metrô, tentando ir para casa. O trem zumbia acima de nossas cabeças e alguns desesperados passageiros corriam na esperança de ainda ir pra casa antes do próximo metrô. Nem cogitei uma corrida e aguarei com estranha paciência a próxima partida enquanto pensava na leitura noturna que desejei durante o dia!
A chuva insistia em minha janela madrugada a dentro, enquanto eu percorria as páginas de um livro! Devorar livros é um hábito interessante e impulsivo!
As vidas dos personagens se entrelaçaram com a minha e o meu trabalho! Via-me transportado para dentro do processo de produção e montagem de um grande circo e fazia repetinas comparações com a vida real!
Ainda não contei como entrei no mundo do cinema itinerante, mas teremos um bom tempo para que isso aconteça! Meus leitores (se é que tenho algum!) são meus amigos, portanto, já estão careca de saber... Aos forasteiros em meu mundo, digo que sigam lendo à vontade e terão o oportuno momento das descrições oportunas! De antemão aviso que é por isso que sempre comparo todas as coisas com cinema!
Entre trens, trilhos, cavalos, circos, espetáculos, aventuras... Eu já não tentava mais me agarrar na tênue linha da fronteira entre ficção e realidade. Somente vivia a leitura, percebia um modo interesante de viver e descobria a cada página que sempre temos uma grande necessidade de fazer da vida uma real experiência!
Não que eu esteja me transformando num melancólico piegas, mas os rótulos me apatecem menos do que os clichês. Estes eu adoro! O que seria a vida sem eles? Podemos até readaptá-los, mas serão sempe clichês!
O sono veio junto com mais dois capítulos, até que fui forçado a pegar o velho pedaço de película 35 mm - que uso como marcador de páginas - e fazer a essencial pausa de todos os dias!
Ultimamente consigo acordar sem despertador, nahora certa! Não sei se é disciplina ou neurose, mas acontece!
Meu MP3 havia ficado no escritório, contudo, diante de um trajeto sem "back ground", não relutei em colocar o livro e alguns biscoitos na mochila! Na verdade, nem um, nem outro foi consumido. Fui tomado por trilhões de pensamentos soltos, assim como faço agora, sem a chance de vomitá-los!
Em instantes deparei-me de frente ao PC, escrevendo coisas sem nexo, somente para indicar um ótimo livro:

ÁGUA PARA ELEFANTES - Sara Gruen - Ed. Sextante - Ficção

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O GRANDE ENCONTRO - versão rubinense!

ESCREVO EM POUCOS VERSOS
UM CAUSO MUITO ENGRAÇADO
DO ENCONTRO DE DOIS ELEMENTOS
QUE EM RUBIM FORAM ETERNIZADOS
VIVERAM EM DOIS MOMENTOS
MARCARAM PRESENTE E PASSADO

MESTRE PIPA CHEGA AO CÉU
VAI LOGO PERGUNTANDO
COM SEU JEITO DE MALANDRO
EM FRENTE À GRANDE PORTA
SERÁ QUE É UM BUTECO
MINHA VISTA TÁ MEIO TORTA
TÔ DOIDO PRÁ VIRAR O CANECO
Ô CIDADEZINHA MORTA

O GRANDE PORTAL SE ABRE
PRA SURPRESA DO CACHACEIRO
ELE ENTRA ADMIRADO
AINDA DESCONFIADO
COM SEU JEITO CABREIRO

PIPA LOGO DÁ DE CARA
COM OUTRA FIGURA RARA
FRANZINO QUE NEM UM BODE
DIZ ELE: COMO É QUE PODE?
UM SUJEITO DA SUA IGUALA
PISAR AQUI NESTA SALA

PIPA DISSE:
NÃO ME TRATE DESSE JEITO
FUI HOMEM DE MUITA FAMA
TÁ PRA NASCER UM SUJEITO
QUE COM ESSE NOME SE CHAMA
E ENCHE DE ORGULHO O PEITO

TU ACHAS TEU NOME BONITO?
DISSE O OUTRO NUM SÓ GRITO
POIS MEU “PX” É ABREVIADO
ALGUNS ACHAM OBCENO
OUTROS ACHAM ENGRAÇADO

NO LUGAR DE ONDE VIM
EU ERA MUITO CONHECIDO
QUASE ME ELEGI PREFEITO
TODOS GOSTAVAM DE MIM
DE TANTO QUE ERA QUERIDO
MEU NOME ATRAPALHOU UM POUCO
E NÃO PUDE SER O ESCOLHIDO

PIPA RETRUCA: DE ONDE VIM EU TAMBÉM
MANDAVA E DESMANDAVA
VALENTE, FESTEIRO E RICO COMO NINGUÉM
TODO MUNDO ME ADMIRAVA
APOSTO QUE O MEU LUGAR
É MELHOR DO QUE ONDE VOCÊ REINAVA

O OUTRO RESPONDE LOGO:
MAS ISSO NÃO ACONTECE
NEM MESMO EM BRINCADEIRA
O MEU LUGAR TEM UMA SERRA
E TAMBÉM MUITA LADEIRA
UM PUNHADO DE GENTE BOA
E UM SOL DE RACHAR MULEIRA

DISSE PIPA:
ATÉ PARECE QUE O SEU
É O MESMO QUE O MEU LUGAR
MAS SE EU ZÉ PIPA
NÃO TIVESSE REINADO LÁ
DIRIA QUE TU, DESCONHECIDO
ALI TAMBÉM TIVESSE VIVIDO

ZÉ PIPA É VOCÊ?
PERGUNTA O OUTRO ADMIRADO
JÁ TE CONHEÇO DAQUI, SAFADO
NOSSO LUGAR É O MESMO
AGORA TU TÁ NO CÉU
PRAZER, SOU MANEZIM PIXÉU

MAS É UMA HONRA TREMENDA
ENCONTRAR O PRÓPRIO "PX"
PRUZIAR COM UMA LENDA
É UMA FELICIDADE SEM FIM
E FALAR QUE SOU DO RUBIM

JÁ OUVI MUITO SOBRE TU
NENZINHA, NEL PEZÃO, LUA CHEIA E MARIA 3 CU
VAMO CUMÊ ÁGUA ADOIDADO
DISSE PIPA ANIMADO
CONTAR UNS CAUSOS FORA DE MENTIRA
AQUI ISSO É UM GRANDE PECADO

E A PROSA DUROU UMA ETERNIDADE...

SER DO VALE AOS PÉS DE OUTRA SERRA

Distante da terra querida, o sotaque ainda pesado e inconfundível para qualquer outro da mesma origem, relembro os bons tempos de uma geração que presenciou marcantes mudanças culturais, sociais e políticas em Rubim.

Sou do tempo em que se jogava “queimada” na rua de calçamento e fazia corridas de bicicletas na rua São Geraldo. Estudei no Cardeal Leme e no Walmir Almeida Costa e como bom aluno, tinha que saber escrever aqueles “zero ponto cinto, ponto alguma coisa, ponto B”. Não sei bem para que serviam, mas, tinha que saber escrever! Não fiz a “admissão ao ginásio”, porém escutei muitos relatos e me angustiava com as narrações. De decorar a tabuada eu não escapei!

Alguns outros detalhes se perderam com o tempo, no entanto, os mais marcantes são agora nostálgicos, engraçados ou dramáticos.

Tenho a honra de ter conhecido um dos maiores mitos de Rubim: “Manezim PX”. Figura imortalizada por todos e que não apaga o brilho dos não menos ilustres “Zé Pipa”, “Domício”, “Lua Cheia”, “Néu Pezão”, “Dedé Doido”, e a imortal “Nenzinha”. Novas figuras surgiram, mas têm ainda um longo caminho de alcoolismo, insanidade, exclusão social e sofrimento a ser percorrido até tornarem-se celebridades como estas.

Presenciei grandes festas no Tênis e no Péra (Domingo Alegre) e tenho vagas lembranças dos famosos gritos de carnavais promovidos por Seu Raildo. Cresci dentro do lendário Jeep (“Nós é Doido”) de Mindão e tive o privilégio de dirigí-lo. Passei por Vaquejadas e Argolinhas na “Praia do Anjo”, fui aos circos e touradas onde vi a mulher serrada viva, a bailarina que subia numa escada com um copo d’água na testa, a anã que cantava e jogava uma fita em busca de alguns trocados (como se o valor cobrado na entrada não fosse suficiente!), o leão que matava a vaca, o boi que quebrou a cerca da arena e tantos outros espetáculos. Dentre eles, os shows de Helena Santos, Saulo Laranjeira, Rubinho do Vale e Gretchen também foram muito marcantes!

Acordei de madrugada algumas vezes para ir pra roça, outras para ver o cometa. Outras ainda para esperar o caminhão pipa. Há algum tempo a madrugada foi marcada por uma forte chuva que causou inundação, feriu a serra, feriu nosso orgulho e aflorou nossa solidariedade. Rubim perdeu o nome de “União”, mas jamais perderá sua essência.

Meus medos inocentes, hoje transformados ou substituídos pelo medo da violência, medo do desemprego, medo da doença. Queria eu ter medo novamente da mula sem cabeça, do lobisomem, do “bicho da fortaleza”, do homem do tamanho de um poste, da combi de vidro escuro que roubava meninos (e eles já tinham o tal de “insulfilme” naquela época!). Medo de “Loicinha” fugir da cadeia, de Alicinha “bebedeira de sangue” me “sangrar”. Medo de morar no “rabo da gata” e de beber água do “Medéia”. O único medo de antes e de agora é do mundo acabar!

Nossas saudades são expostas quando os colegas se reúnem. Relembramos os desfiles de 7 de setembro, o picolé de Dielson e seus famosos sabores de côco e groselha, que, vez ou outra, vinham com gostinho de álcool devido a algum equívoco na fabricação. Produto substituído e o eterno sabor garantido!

Mesmo sem ter conhecido nenhum deles, tinha saudade do mirante, tinha dó de “Bugue Ugue”, da velhinha e o gatinho levados pela enchente antiga. Tinha muita vontade de entrar na “Caverna” e no “Pinta 7”. Ironia do destino ou não, ambos tornaram-se academias. Quando entrei a emoção foi a mesma!

Outro fato interessante é observar as posições de se acompanhar o “Boi de Janeiro”. Quando somos criança, vamos à frente do boi, correndo dele, com medo da “Lobinha de Ouro”, da “Maria Manteiga” e dos outros. Na adolescência usamos o boi como desculpas para os primeiros romances, mas mesmo assim vamos atrás. Quando adultos vamos somente à esquina e ensaiamos alguns acenos. E quando idosos, colocamos uma cadeira na porta da rua e com o mesmo sorriso esperamos o boi passar. E pra falar a verdade, eu morria de vontade der ver a briga entro o boi “dos Coquis” e o boi de “Maria Pé Roxo”!

Tudo isso não morre em nossos corações. Somente fica guardado a espera de uma fisgada. E quando reúnem-se mais de um, explode como vulcão adormecido. São emoções, saudades, raízes, culturas, tudo “imbolado”! Poder ter vivido juntos a tristeza de ver na televisão da praça, Zico perdendo o pênalti na copa. A angustia de ver nas ruas de calçamento as mulheres em penitência carregando pedras sob o sol carrasco. Ter vivido também a alegria de ver a água chegando, de cantar na praça durante o X Festivale e ainda não trocar Rubim por Paris, Nova York, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outro lugar. Saímos do pé da serra, subimos a ladeira da “Cova do Correio” e procuramos abrigo aos pés de uma outra serra: a do Curral. Fomos bem acolhidos e nos sentimos em casa, talvez pela ligação dos nomes de ambas as montanhas. Mas, o privilégio de ver a Serra da Cangalha parir a lua como se fosse a primeira vez, é só nosso!

Ser rubinense é ser “tupetudo”, persistente, é ser artista, é ser feliz!
Não sei de você, mas EU SOU DO RUBIM!

E O MENINO PEGOU O TREM!

E o menino pegou o trem…
E o trem seguiu viagem entre as montanhas geraes, capixabas. Cruzou terras de minas, de índios, de ninguém...
A janela, tela aberta para o mundo, abriu os olhos do menino e os encheu de mais sonhos nos infinitos trilhos das terras secas e quentes. Terras do pôr-do-sol vermelho forte, como a força do povo que passa lá fora. Um povo que olha para a aberta, tela, janela para o mundo deles e mostra o interior de um gigante e os trens que ali têm.
E o menino largou o trem...
E o trem seguiu viagem levando em seus vagões os sonhos, os trabalhos, as comidas, os cheiros, as cores, a chuva, os medos, as incertezas e as esperanças. Novamente, incansável cortou as terras selvagens do planalto.
E atrás do trem veio o menino que se encantou com a janela, tela, inflando corações e projetando emoções.
E o trem valente curvou o recôncavo, desafiou o desconhecido, uniu cidades que o rio separou, separou elementos que a natureza uniu.
E o menino alcançou o trem...
E o trem esperou o menino que contou os vagões... os 31 vagões que correram pelos trilhos a 24 quadros por segundo e projetaram os sonhos em cada passageiro. E os olhos dos outros eram os olhos do menino hipnotizado, que criaram vidas ao longo dos trilhos; olhos que pipocaram reluzentes em nuvens de algodão doce; que se encantaram com desenhos em movimento; que se apaixonaram pelas almas capturadas; que viram as vozes gravadas das estórias de caboclos apaixonados.
E o menino assobiou...
E o trem apitou ao longe, rodopiou no samba de roda, no bumba boi, no congado e no tambor.E a janela, aberta, tela, brilhou ao longe anunciando mais um sonho sonhado, vivido, realizado. As letras subiram no clarão, as luzes se apagaram devagar e o menino fechou a janela, dobrou, enrolou, amarrou e guardou. Chegou à última estação, caminhou pelo tapete vermelho, foi para casa sonhar novamente. E sonhou!

A MULHER QUE IMITAVA DEUS!

Um dia, ainda bem pequeno, vi-me na casa de uma mulher. Uma casa como qualquer outra, mas cheia de vida. A cozinha pequena, porém poderosa, tinha sempre um cheiro de guloseimas; o quintal tinha um aroma de mato molhado e muitas plantas que produziam infinitas miçangas usadas para confeccionar diversos enfeites. Tinha também uma imensa trepadeira que abraçava todo o muro com suas minúsculas flores rosas,acompanhadas pelas pontuais abelhas em busca do néctar diário.

As minhas visitas a esta casa foram tornando-se mais freqüentes. Descobri que eu não era o único visitante. Eram muitos que por ali passavam ou moravam nos inúmeros quartos que exalavam um ar acolhedor.

Com o passar do tempo percebi alguns sons que intercalavam em batidas fortes, agudas e graves. Não conseguia definir de onde vinham, mas eram rotineiros.

Certo dia, a curiosidade me instigou a seguir as batidas. Fui para o quintal e percebi que lá bem no fundo uma luz fraca poderia ser a resposta para o que eu procurava. Cheguei mais perto e senti que o barulho ficava mais forte. Aproximei devagar até chegar ao local onde vi uma mulher sentada em uma cadeira de madeira sobre o chão colorido por pedaços de tecidos de todos os tamanhos. Observei a mulher por um tempo, sem que ela percebesse a minha presença. Continuou trabalhando com tamanha dedicação que só me viu quando virou-se para pegar uma ferramenta. Estendeu a mão em minha direção e exigiu o toque com a minha. Seus dedos polegar e indicador estavam tingidos de verde cujas unhas tinham uma coloração avermelhada de algum corante.

Após o cumprimento ela voltou-se ao trabalho, de cabeça baixa e com o lábio inferior protuberante, olhando fixamente para os seus afazeres, perguntou sobre minha mãe, meu pai e minha irmã. Fez outras perguntas das quais não me lembro, mas certamente respondi todas. Ela usava um vestido marrom impossível de definir, no entanto, recordo que era marrom.

Perguntei o que estava fazendo. Ela disse que fazia flores. Fiquei meio confuso e surpreso por encontrar a primeira pessoa - além de Deus - que fazia flores. Até mesmo porque eu só havia visto as flores de Deus, mas o Deus propriamente dito, nunca tinha visto!

Estava eu diante de criador e criatura enchendo a cabeça de perguntas e o que saiu foi somente uma afirmação:
“ Eu pensei que quem fazia flor era somente Deus!”
Ela respondeu sem me encarar:
“E você está certo! Eu não faço flores. Eu somente copio as que Deus faz!”
Ainda mais confuso exclamei:
“Então você faz melhor do que Ele, porque suas flores duram para sempre!”
A mulher então, parou o que estava fazendo, olhou-me e depois de um tempo disse:
“Ninguém é melhor que Deus. As flores Dele têm cheiro, são bem delicadas e não duram para sempre. Aí está o segredo! Eu somente copio o formato e a imagem das flores de Deus. Somente isso! E assim somos nós. Sabendo que nada dura para sempre devemos aproveitar o quanto pudermos do presente, do mesmo modo que fazemos com as flores de Deus. Olhamos, cheiramos, tocamos, fazemos enfeites. E quando elas morrem, as colocamos de volta no canteiro para que virem adubo e dêem energia para as outras flores que virão. E o mais importante é que não há flor igual à outra. Todas são únicas! As minhas flores também são assim.”

Um silêncio tomou conta do lugar que somente hoje posso até chamar de ateliê, mesmo sendo rústico. Mas a rusticidade e suas características particulares é que fazem com que determinado local se transforme em ateliê.

Aquelas palavras me marcaram! Voltei a visitar a mulher por incansáveis vezes e com o tempo aprendi a chamá-la de vovó. Não me lembro a partir de quando, mas todas as vezes que tomava bênção eu apertava uma mão enrugada e molhada, com cheirinho de tempero e comida quase pronta.

O tempo passou, a mulher mudou-se. Eu também me mudei e as visitas tornaram-se menos freqüentes, inversamente proporcionais aos cheiros, às imagens e palavras que são ainda nítidos.

Hoje esta mulher certamente confabula com Deus sobre o processo de fabricação de flores. Ambos têm muito que discutir, pois eu nunca vi cópias tão perfeitas das flores de Deus como as feitas por ela.

A mãe severa, a avó protetora e a bisavó acolhedora resumem numa só mulher a força de uma pessoa dedicada, talentosa e honesta. Tive o privilégio de participar dos seus últimos dias, da melhor e da pior maneira, desde o toque macio das mãos até a aflição do padecer.

Nem mesmo suas flores fabricadas irão durar para sempre, nem os seus frutos que confirmam o ciclo da natureza de estes virem depois das flores! As lições, sim, são eternas! Estas vêm embrulhadas em pedacinhos de saudades umedecidos por lacrimejos inevitáveis.

PRIMEIRA POSTAGEM!

DEVANEIOS DE METRÔ

Nunca tive paciência para blogs! Sempre achei trabalhoso, já que tenho "yakults" e "ssms", além de outras futilidades viciantes na internet!
Depois de um dia chuvoso, refletindo no metrô, num clima meio londrino, mesmo sem nunca ter ido a Londres... E daí! O que vale é o que eu crio em minha mente! (Digamos que o próprio Bob foi meu aluno e criou o seu FANTÁSTICO MUNDO sob minhas orientações...)
Quando vi que aqui seria um lugar onde poderei vomitar minhas baboseiras! Mas é exatamente isso que um blog é: vc faz e escreve o que quer nele, com a total liberdade!

Voltando às confabulações no metô, eu olhava a chuva pela janela de tela plana, tive um surto repentino de felicidade e num sorriso de canto de boca, olhando as gotas escorrerem no meu guarda-chuva e reparando as pessoas que tb seguiam para seus infinitos destinos... E eu pensava em minha egoísta felicidade enquanto o mundo desabava lá fora.
O meu MP3 tocava a trilha do filme "Não Estou Lá" (vide final) e seguia o ritmo do ambiente!
A cada música eu me projetava para outros lugares enquanto o trem cortava a chuva sem nenhum pudor...
Chegando em meu destino acompanhei a fila de gente/formiga até a superfície do mundo real, molhado, onde as gotas de prata caíam insistentes sobre as poças de espelhos das quais eu desviava!
Aí você, pobre leitor que dedicou o seu tempo às minhas maluquices... não! não uso drogas! É NECESSÁRIO??????????????????
Enfim... mais uma dia normal de trabalho! e a chuva ainda cai lá fora...

Trilha sonora para hoje:
Filme "Não Estou Lá"
Título Original: I'm Not There Gênero: DramaTempo de Duração: 135 minutos Ano de Lançamento (EUA / Alemanha): 2007Site Oficial: http://www.imnotthere.es/
Direção: Todd Haynes

MUSICAS SELECIONADAS:
* Stuck Inside Of Mobile With The Menphis Blues Again - Cat Power
* Ballad of a thin man - Stephen Malkmus & The Million Dollar Bashers
*Pressing On - John Doe
*Highway 61 Revisited - Karen O & The Million Dollar Bashers
*Teh Lonesome Death of Hattie Carroll - Mason Jennings
*Man in The Long Black Coat - Mark Lanegan
*As i Went Out One Morning - Mira Billotte
*Ring Them Bells - Sufjan Stevens
*Moonshiner - Bob Forrest
*All long The Watchtower - Eddie Vedder & The Million Dollar Bashers

Mais algumas do Bob Dylan!
Se quiser é so me pedir!
Nos veremos na segunda postagem!