terça-feira, 17 de maio de 2011

O CAMINHO DO SOL

Julian caminhou exaustivamente para dar a volta no lago que parecia não ter fim. Subiu numa duna e ao longe avistou Penélope. Ela parecia agitada e feliz ao mesmo tempo. Brincava com o vento e alguns pássaros a acompanhavam no que parecia uma dança.

Julian sentiu imensa emoção ao ver a amada. Resolveu inutilmente gritar. Ela não podia ouvi-lo a uma distância que parecia curta. Era muito longe! Penélope seguia sem olhar para trás enquanto o vento brincava com seu longo vestido.
Julian chamou dezenas de vezes. Gritou o mais alto que pode, sem sucesso. Decidiu correr para alcançá-la, mas a cada passo parecia afundar na areia macia. Desesperou-se e caiu cansado, respirando forte enquanto Penélope desaparecia no horizonte trêmulo.
Julian levantou-se e teve que fazer um esforço tremendo para manter-se de pé. Cada passo era dado com dificuldade em direção a um arbusto do qual ele só havia percebido a presença há poucos segundos. Prostrou-se sob a sombra e tentou chamar pela amada mais uma vez, no entanto, nem a imagem dela estava mais lá.
Sentiu sede, fome e tristeza ao mesmo tempo.
Percebeu uma imagem escura aproximando-se vagarosamente. Era um beduíno montado em um jumento.

- Divide a sombra comigo? Disse o viajante.
- Fique à vontade! Respondeu Julian arredando o corpo para o lado.

O homem vestia roupas grossas e exalava um cheiro forte de estábulo.

- O que faz você por aqui, sozinho? Perguntou o homem a Julian.
- Estou a procura da minha amada. Ela foi em direção ao sol, logo ali naquela duna.
- Por ali não vi ninguém passar por mim. Confirmou o viajante.
- Tem certeza? Duvidou Julian
- Absoluta! Mas você vai continuar a caminhar por este deserto sem fim?
- Sim! Até encontrá-la.
- E que vai te dar forças?
- O meu imenso amor!

O viajante deu uma gargalhada que ecoou pelas dunas ao longe.

- Imenso amor? imenso é este deserto. Você é ridículo, mas acho que posso acreditar em você! Você me venderia esse amor? Pago cinqüenta moedas de ouro por ele!
- E o que eu faria com tanto ouro?
- Compre outro amor! É muito fácil! Venda-me o seu, volte para a cidade e compre todo amor que desejar!

Julian sentiu-se envergonhado e nervoso com a oferta:

- E onde encontrarei um amor que me faça feliz? Um amor puro sem limites; um amor tão grande, cuja palavra “amor” não seria suficiente para defini-lo. Um amor acima da distância e das circunstâncias. Onde estaria? Eu vendo-lhe o meu amor e compro a informação. O meu amor acabou de desaparecer por trás daquela areia toda!

Julian chorava sem forças para prosseguir em sua busca por Penélope. Tentou gritar, mas a voz não era suficiente. Suas lágrimas secaram...
O viajante levantou-se vagarosamente apoiando-se no ombro de Julian. Prosseguiu sua caminhada puxando o jumento. Sem olhar para trás disse:

- Tenha calma! O amor ainda está por perto. Depende de você. Não tente gritar. Caminhe vagarosamente, um passo após o outro. Penélope está mais perto a cada passo. Limpe os seus olhos e veja além do que a areia esconde.

O sol lambeu a duna mais distante e derramou seu dourado pela vastidão.

Julian decidiu que por hora era melhor repousar por ali.

Playlist:
Água de Oceano - Victor e Leo

Nenhum comentário:

Postar um comentário