quinta-feira, 16 de julho de 2009

DE ARTISTAS E LOUCOS

E lá se foi mais um Festival da loucura em Barbacena – MG!
Eu estava lá com o cinema na praça, integrando-me aos loucos, curtindo um festival feito para o povo!
Ali no meio da praça, entre árvores e uma fonte seca, misturaram-se loucos, mendigos, bêbados, cachorros, curiosos e simpatizantes à causa.
Realmente nada era tão normal assim! Num local onde os parâmetros de normalidade são questionados a todo tempo, descobrimos que podemos fazer o que quisermos sem nos preocuparmos com julgamentos alheios ou olhares de repreensão!
A começar pelo ajudante da equipe técnica. Qual foi minha surpresa em conhecer a franzina Grace, ressaltando a ironia em torno da função, nome e gênero. Após explicar com uma dose de terrorismo o que deveria ser feito, ela continuou a me olhar animada e aceitou o trabalho junto com os outros dois rapazes.
A magia do cinema ia encantando a todos que enchiam-se de orgulho por estar trabalhando em um evento diferente e hipnotizante.
As tardes chegavam frias sob o fundo musical de sertanejo tocado em flauta dos índios peruanos, enquanto os loucos curiosos perguntavam o q haveria ali.

- Oh moço! O que vai ter aqui hoje?
- É cinema!
- Ah é? E paga?
-Não!
- Então tem que ir lá chamar Adriana para trazer as crianças. Ela desceu aqui agora! Corre lá, moço! Corre! Chama Adriana! Ela tem que trazer as crianças!

Corri, dei a volta na tela inflada e voltei.
- Pronto! Encontrei com ela logo ali. Ela disse que vai trazer as crianças.
- olha que coisa boa! As crianças vão gostar. Obrigada, moço.
- De nada!

Entre um cão e uma criança, a cidade ia passando por ali com o seu ar de cidade do interior, petulante em crescimento. a noite chegava e os pombos e pardais acomodavam-se nas grandes árvores da praça.
Eis que chega o “dono da praça” e adverte o vendedor de CD’s:

- Meu amigo, este local está comprometido com o evento que acontecerá agora à noite, por isso você terá que se retirar!
O vendedor, sem acreditar, mas também sem duvidar, consentiu.
O homem andou 10 passos, parou, deu meia volta e disse:
- E se você não sair serei obrigado a chamar as tropas de segurança para resolver este problema.

Penso que o vendedor não teve mais dúvidas, pois recolheu as suas coisas e saiu discretamente.

Foram quatro dias de exibição de cinco títulos: SE EU FOSSE VOCÊ 2, PIAF – um hino ao amor, DEU A LOUCA NA CHAPEUZINHO, VIDA DE MENINA, SANEAMENTO BÁSICO.
As noites frias traziam os amantes do cinema para matarem um pouco da saudade e comerem pipoca de graça!
Notei que todos os filmes agradaram, mas a vida da cantora Edith Piaf foi um show à parte. Era um “novelão” bem montado que trazia todos os ingredientes para prender o público: drama, tragédia, sofrimento e vitória! Em quatro anos de exibições vi pela primeira vez um filme legendado segurar um público razoável no meio da rua e ainda ser aplaudido no final!
Particularmente, fiquei com os olhos colados na tela, quando pensava que tal evento não mais me iludia.
É só o meu trabalho, mas naquela noite, Piaf me seduziu com sua perseverança, arrogância e dedicação à música!
Após muito tempo, num evento que comemora o fim da segregação, percebi realmente que “de perto ninguém é normal” e todos somos um pouco artistas, poetas, sérios e loucos...
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