segunda-feira, 27 de julho de 2009

A RESPOSTA

Julián transitava pela rua úmida antes mesmo das últimas gotas pararem de cair. Um cão latiu ao longe estranhando a sombra de uma arvora que tremulava numa dança ritmada por um vento sorrateiro.
Enquanto caminhava meio embriagado pelo vinho que tomara na taberna próxima ao porto, as chaves brindavam ao balanço do caminhar, dentro do bolso do casaco.
Após abrir a porta Julián notou um envelope no meio do corredor. Obviamente lançado até ali pela força impulsionada pelo carteiro pela fresta da porta, na tentativa de garantir a entrega da missiva.
Reconheceu de imediato a letra da amada, antes de apanhar o envelope, sorrir de canto de boca e apertá-lo contra o peito como se fosse a própria Penélope. Abriu cuidadosamente o embrulho e tomou posse das palavras ali escritas. Sua feição foi transformando-se ao longo da leitura, pois percebia que ali estavam as mais temidas palavras. Teve vontade de parar para gritar, jogar a carta no fogo. Teve ódio do mundo, teve raiva de si mesmo. Sentiu-se culpado por não dar a Penélope o apoio merecido. Por fim, sentiu uma ternura imensa ao recordar de todo o tempo juntos!
Enquanto chorava sorrindo, entendia o sofrimento da amada diante do inevitável, das escolhas e conseqüências.
Abriu a janela do seu quarto, deixou a brisa invadir e acariciar o seu rosto. Dobrou a carta, colocou de volta no envelope, depositou-o sob um jarro de cristal que acolhia duas flores murchas.
Queria dizer a Penélope tudo o que sentia. E escreveu-lhe:

Meu amor,
O que é o perdão quando não há erro?
O que é o amor se não há um pouco de egoísmo?
O que posso eu fazer diante de tamanha impotência, a não ser atender seu pedido?
No entanto, não irei perdoá-la por nada, pois não há o que perdoar!
Simplesmente substituo este perdão por um agradecimento.

Te agradeço por me amar
Te agradeço por me entender
Te agradeço por cuidar de mim
Te agradeço por me acolher

Te agradeço pela felicidade infinita
Pela vida que encheu meu coração
Pelo brilho em meu sorriso

Ah meu anjo!
As pontas das asas que você viu eram o reflexo das suas em minha aura de felicidade!
Trouxeste-me do céu para dar-me o paraíso e mostrar-me o que é amar com a mais intensa pureza.Viste em mim o anjo que há em você!

Vai, meu amor!
Assim como você veio. Tão sutil e lindamente encantadora!
E eu fico daqui te olhando bater asas de encontro ao seu sonho.
Enquanto o meu sonho se acaba aos poucos eu consigo ainda sorrir para lembrar que a cada sorriso meu, existe um sorriso seu...
E a cada vez que fechar meus olhos, é para lembrar dos seus me olhando.
O que tiver que ser, será!
O mundo te espera!
E eu te amo!

Para sempre,
Julián

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