quarta-feira, 18 de março de 2009

ACONTEÇA O QUE ACONTECER


Aos meus eternos amigos, Sérgio e Pablo, o meu sincero carinho, sempre, aconteça o que acontecer!


- Aconteça o que acontecer, sempre serei amigo de vocês!

Foi assim que Pablo se despediu após jogar a camiseta no chão. Sérgio me lançou um olhar assustado enquanto “Penedo” ganhava o corredor e descia a rua com sua bicicleta. Isso parecia despedida de filme onde na cena seguinte o personagem sofria um acidente horrível!
Pablo, o rapaz flamenguista de cabelo de índio, apareceu em forma de homem feito, onze anos depois do último passeio de bicicleta que antecedeu a estranha despedida.
Um caminhão parou em frente à minha casa! Dele desce um homem sorridente, de traços inconfundíveis com a mesma cara de moleque. O filho da mãe finalmente havia feito o trajeto inverso e vinha rever o amigo abandonado. Nos entreolhamos por um tempo com risos sem graça até lembrarmos da existência do abraço. Alívio e ódio se misturavam em meu coração! Eu pensava se seria possível um amigo desaparecer tanto tempo e reaparecer como se nada tivesse acontecido.
Seria sim! E aconteceu!
O resto do dia serviu para colocarmos os assuntos em ordem. Falávamos ao mesmo tempo, relembramos os velhos tempos várias vezes e percebemos que nada havia mudado em nossa amizade. Por isso, prometemos não ficar tanto tempo sem dar notícias.
Enquanto eu me apresentava à turma do curso noturno de contabilidade do Assis Chateaubriand, vi que o rapaz esguio e de cara séria, cara de poucos amigos, que eu havia visto fumando no portão do colégio, era o meu vizinho de carteira. O professor escolheu as duplas para as primeiras atividades da aula e sem saber, deu início a uma grande amizade. O trabalho de química vinha misturado ao sonho de comprar uma moto, às reclamações do time do Galo, ao cigarro que estava acabando, à garota desatenciosa da sala vizinha, etc. Sérgio não era o monstro que se pintara fora do colégio, encostado no muro!
Cada trabalho em grupo era um reforço à nossa amizade!
Pablo surgiu do nada! Caiu de pára-quedas e completou a parceria. Estava formado o trio da bagunça, das encrencas e da irritante conversa paralela. Os professores nos odiavam, as meninas nos adoravam.
Uma imensa cumplicidade se formou entre nós e aos poucos extrapolou os muros da escola. Como se não bastasse, os fins de semana eram insuficientes para tantas estripulias.
Os passeios de bicicletas eram os mais freqüentes! Sempre encontrávamos um trajeto novo. Eu e Pablo travávamos discussões intermináveis por causa dos roteiros. Ele o imprudente, eu o cauteloso e Sérgio o mediador. Assim vivíamos tentando, sem perceber, provar ao mundo o valor de uma amizade. Mostramos a existência do nosso mundo o qual nem o tempo, nem a distância foram capazes de apagar o que foi construído com inocência, dedicação e consideração mútuas.
Pablo me ofereceu grande fidelidade, Sérgio me ofereceu sua família! Até hoje certamente as tenho!
Atualmente, cada um com sua vida ligados pelas lembranças, mas nos falando constantemente, cumprindo a promessa feita depois do grande tempo de separação.
Naquele último passeio de bicicleta que consumiu toda a tarde de um sábado, pedalamos como se soubéssemos que seria realmente o último. Estávamos crescendo e Pablo foi o primeiro a notar isso. O passeio não foi muito diferente dos outros. Eu e Pablo brigando, Sérgio comemorando o fim da etapa de fumante e nós comemorando a nossa amizade. Enchíamos as cabeças de sonhos e bobagens... ríamos como sempre!
Descemos a rua, paramos em minha casa para tomarmos água e recapitular o passeio. As bicicletas descansavam na calçada no momento da súbita declaração de Pablo (meio sem nexo naquele momento), a qual entenderíamos anos depois. Realmente, muita coisa aconteceu. Mas o que importa é que ainda somos amigos e sempre citamos nosso lema:


aconteça o que acontecer!

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