quinta-feira, 19 de março de 2009

POESIA DA VIDA ALHEIA!

Hoje não fez tanto calor assim!
Nem a espinha de peixe se instalou em minha garganta!
Fiquei menos tempo no msn, não olhei nenhuma foto no Orkut!
O clima realmente impressionava e dava a entender que o verão agonizava em seus últimos dias sufocantes. Enfim, o concreto da metrópole pareceria menos aterrorizante e mais colorido pelas quaresmeiras.
Já era noite quando desci a Rua Araguari em direção ao ponto de ônibus desfrutando de uma brisa intrometida e perdida pelas ruas do Santo Agostinho. Meu MP3 começou a trabalhar e novamente a cena surgiu ali tão repentina, da mesma forma em que se esvaiu!
Um pequeno garoto vestindo uma camiseta rasgada e uma calça velha de moletom. Tinha um cabo de vassoura em suas mãos e caminhava tão despreocupado quanto eu, como se passeasse pelo bairro. Logo em seguida surge o companheiro vira-latas e para completar a comitiva, o pai deles puxava um carrinho de madeira onde colocava os objetos recolhidos do lixo! Caminhavam em silêncio, sem pressa, sem preocupação.
O garoto com o seu bastão imaginário desbravava o desconhecido mundo cheio de montanhas e castelos com suas muralhas. Sonhava em um dia ser um rei e morar num daqueles castelos. Ter um lindo cavalo ou um tanto deles para poder viajar para onde quiser! Olhava com admiração para tudo que surgia em sua vista.
O pobre cão enfiava o focinho no canto do passeio e verificava o cheiro dos outros cães moradores dali. Ignorando a posição de conforto deles, aguardava ansiosamente pelas sobras da próxima lixeira. Parou para me observar passar por eles e seguiu o seu trajeto.
O homem, dono do menino e pai do cão (considerando o teor do beneficiamento momentâneo), tracionava o carrinho e vasculhava as lixeiras a procura de algo útil, cuja utilidade ficaria a cargo da criatividade no momento do achado! A carga incluía uma grande caixa de uma grande TV de plasma. Ironicamente, o desenho da TV na lateral da caixa ilustrava uma família feliz em um ambiente limpo e perfeito para uma confraternização, contrastando com a família na rua que indiretamente carregava uma esperança no seu carrinho.
Não tive pena de nenhuma das famílias! Somente observei e não me atrevi a analisar o grau de felicidade deles. A cena passou por mim continuando o movimento diário do ser humano. Não notei indícios de infelicidade no homem da rua. Ele contentava-se com o tesouro diário e deliciava-se apaixonadamente com as aventuras do filho. Seguiram a rua num trajeto contrário ao meu!
Eu desci a rua com as minhas infelicidades, minhas preocupações, meus planos, irritações, tornando-me cada dia um monstro cego que não vê a simplicidade ao meu redor! Não mais rico do que o trio que passara por mim. Muito menos mais feliz do que eles.
Eles encontravam nas lixeiras o que possivelmente eu procuro na vida! Coisas iguais em caminhos diferentes!
A nossa diferença era a importância que damos para essas coisas!

O que tocava em meu MP3:
Crossed out NameRyan Adams & The Cardinals



2 comentários:

  1. Que isso, muito bacana o que escreveu.
    Isso é a mais pura verdade, as vezes somos muito egoístas e reclamamos de nada estar bem, e esquecemos do que temos ao nosso redor.

    Eu tenho esse comportamento as vezes (na maioria das vezes) e me arrependo demais, mas é aquilo, teto de vidro.

    Muito bacana o post.

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  2. Parabéns por seu blog, seus posts! Cainhar olhando e VENDO a vida, isso é que vale! Final de semana iluminado!

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