sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ALUCINÓGENO!


Um frio nada agradável ensaiava suas primeiras aparições. A cidade passava incolor pela janela molhada por uma chuva discreta, porém insistente desde a noite anterior. .
Ele inclinou a cabeça preguiçosamente, aproveitando a curva e aproximou-se do vidro para observar o movimento externo, enquanto sua respiração quente embaçava a vidraça. Levou a mão para clarear e ao invés disso, não resistiu ao clichê de desenhar um coração e as duas iniciais, cortadas por uma flecha.
Novamente fez inúmeros vídeotapes mentais para tentar suprir a saudade.
Desceu do ônibus e não sabia nem onde estava. Simplesmente desceu por instinto! Queria descer... E desceu...
Tentou olhar as horas, mas isso não fez nenhuma diferença naquele momento!
A ausência dela cortava o peito como a mais afiada das navalhas e o fazia cego no meio da rua, como um cão sem dono a vagar em ruas sujas, por lugares pouco habitados! As pessoas não tinham rosto, as lojas não tinham vitrines, os vendedores ambulantes não tinham vozes, os carros passavam silenciosamente pelas ruas e avenidas. Nada era interessante! O mundo naquele momento havia perdido o sentido! Os pés eram dormentes e pisavam no chão indefinido, irregular que também não tinha a menor importância.
Em algum momento de lugar algum, após perambular sem destino e sem a mínima vontade de encarar a solidão da casa, ele parou e ouviu ao longe um toque de um chacoalhar. Seguiu o som agudo e ritmado e viu um mendigo balançar um pandeiro e cantar uma canção triste que falava de saudade!
Num autêntico plágio de Bob Dylan, ele pediu ao homem que dedicasse essa canção a ele, de coração partido e agora sem rumo, como no trecho de “Mr Tambourine Man”.
Após o pedido e ouvir a canção desafinada, assim como aquela manhã, sentiu um alívio no peito, levantou os olhos e viu ao longe um homem que vendia algodão doce colorido. Seguiu o movimento ondulado do mastro multicolor, ensaiando um sorriso tímido. Seguiu a rua ainda sem destino, a procura de no mínimo uma explicação para sentir-se junto, mesmo estando longe!
Enquando seguia a rua, todos que passavam em direção contrária, sorriam e cantarolavam:
"Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me, I'm not sleepy and there is no place I'm going to. Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me, in the jingle jangle morning I'll come followin' you.
...Far from the twisted reach of crazy sorrow.Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand waving free, Silhouetted by the sea, circled by the circus sands,With all memory and fate driven deep beneath the waves, Let me forget about today until tomorrow."

"Hei! Senhor Tocador de pandeiro, toque uma canção paramim, não estou dormindo, e não há lugar onde eu possa ir. Hei! Senhor Tocador de pandeiro, toque uma canção paramim, na aguda manhã desafinada eu o seguirei.

..Longe do alcance distorcido da tristeza insana. Sim, para dançar sob o céu de diamantes com uma mãoacenando livremente,em silhueta para o mar, circulado por areiascirculares, com toda a memória e destino navegando profundamenteabaixo das ondas, deixe-me esquecer do hoje até amanhã."


Ouça a música e sonhe com o que quiser:

Bob Dylan - Mr. Tambourine Man



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